Editorial - António Gonçalves Rodrigues

A ‘cousa’ e a causa pública

A causa pública passa pela defesa da ‘coisa’ [ou cousa, como se dizia por estas terras] pública, ou seja, aquilo que é de todos nós.
E, em muitos casos, não é isso que se vê por parte de quem é mandatado pelo povo para governar o todo em nome de todos.
Nesta edição, apontamos duas situações em que a coisa pública tem sido ‘esquecida’ [para ser simpático].


A perceção e a realidade

“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo.../
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer/
Porque eu sou do tamanho do que vejo/
E não, do tamanho da minha altura.../”
Este excerto do poema ‘Guardador de rebanhos’, de Alberto Caeiro (um dos heterónimos de Fernando Pessoa) ilustra aquilo que vivemos diariamente no choque entre aquilo que vemos e a realidade tal como ela é.
Numa sociedade cada vez acelerada, em que o que acontece se sobrepõe à reflexão do ‘como acontece’, toma-nos, cada vez mais, os sentidos.


“A saúde não é um luxo, é para todos”

O Papa Francisco lembrou, esta semana, num encontro com a Federação Nacional de Técnicos de Radiologia, Reabilitação e Prevenção, que “a saúde não é um luxo, é para todos”.
Numa altura em que saltam à vista os arames por que está presa a saúde em Portugal, que é preciso enfrentar poderes instalados há décadas sob pena de perdermos uma das bases de um Estado de Direito Democrático.
A abertura de mais um curso de medicina, por exemplo, é um bom passo mas deve ser acompanhado de outros de forma a inverter o rumo dos acontecimentos.


A água, o capote e as sacudidelas

O caso envolvendo a nova (e, passado um dia, antiga) Secretária de Estado da Agricultura, deu ao Primeiro-Ministro a ideia peregrina de criar uma entidade, mais uma, que ficaria responsável por afzer o crivo das nomeações para o Governo.
O Presidente Marcelo, vendo, aqui, uma tentativa de o nosso Primeiro sacudir a água do capote, rapidamente chutou a medida para canto.


Sinais do novo ano

O ano de 2022 terminou com a sensação de grande trapalhada no Governo, o primeiro de maioria absoluta de António Costa, com as saídas de Secretários de Estado e do Ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos.
Em todo o processo, ficou a ideia de que vários governantes meteram os pés pelas mãos, sobretudo ao convidar para Secretária de Estado do Tesouro Alexandra Reis sem perceber a forma como tinha deixado a TAP, uma empresa controlada pelo Estado, apenas alguns meses antes.
Se sabiam como Alexandra Reis tinha saído da TAP, o caso ultrapassa a questão de incompetência.


A ditadura do politicamente correto

Por estes dias, saltou-me à vista a notícia de que a Federação Internacional do Automóvel aprovou um regulamento que visa impedir os pilotos de Fórmula 1 de emitirem opiniões políticas. Assim como quem coloca um garrote nas liberdades que foram sendo conquistadas a pulso, ao longo de anos.
Neste caso, é uma regra objetiva, que impede cidadãos de emitirem as suas opiniões de forma pública, mesmo que não estejam relacionadas com a atividade em si (neste caso, o desporto automóvel).


Copo partido

Na semana passada, e após várias tentativas, a maioria dos deputados portugueses na Assembleia da República aprovaram a lei que despenaliza a morte assistida.
Sem novo referendo e depois de várias chamadas de atenção do próprio Presidente da República e do Tribunal Constitucional, que fez o projeto voltar atrás várias vezes.
Contudo, a teimosia persistiu e a lei foi mesmo aprovada, sem que tenha havido a necessária discussão, reflexão e consulta popular.


Nordeste Transmontano a caminho da extinção

O habitante do Nordeste Transmontano (que corresponde ao território do distrito de Bragança, com os seus 12 concelhos), caminha a passos largos para a extinção. Pelo menos, os que ainda por cá vivem, em cativeiro.
Os censos realizados no ano passado (2021) apontam para uma redução da população face a 2011, ano em que se tinham realizado os anteriores censos, na ordem dos dez por cento. São 122.833 pessoas agora quando, há dez anos, eram 136.252 habitantes.
É uma perda de um por cento por ano.
Mas o susto é maior quando olhamos para lá do horizonte imediato.


As boas medidas e os efeitos perniciosos

Tem sido notícia desde a semana passada (tal como o foi aqui no Mensageiro), a proposta de arranque de uma regionalização encapotada por parte do Governo de António Costa, através da transferência de atribuições das entidades regionais do Estado para as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (as CCDRs), que passam a ser uma espécie de governos regionais, sem o serem.


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