A opinião de ...

Que futuro queremos enquanto sociedade

Quando se discutem mudanças, a resistência é uma constante. É natural. O Ser Humano é avesso à mudança, mesmo quando mudar é positivo e necessário para evoluir e a situação se adaptar aos novos tempos.
No entanto, a primeira reação à mudança é sempre de resistência.
Isso leva a que, muitas vezes, as mudanças, necessárias, acabem por ser mais impositivas do que naturais. E, depois, dá-se o caso de, muitas vezes, as mudanças serem provocadas pela fatalidade.
Veja-se a área da saúde ou da educação.
Durante anos, a entrada de alunos para as faculdades de medicina esteve limitada à vontade corporativista de um setor, de forma a controlar a oferta de médicos disponível, levando a um aumento do preço dos serviços prestados (lei da oferta e da procura).
A situação arrastou-se por tanto tempo que, agora, mesmo com a abertura de novos cursos, é impossível colmatar as saídas dos clínicos que se foram reformando em tempo útil. Qual é o resultado? Serviços fechados, urgências fechadas e o cidadão mal servido. Ou seja, terá forçosamente de haver mudanças, pois não há médicos para manter tantas urgências abertas ao mesmo tempo.
Este é um dos casos em que a mudança é uma fatalidade, originada pela resistência à mudança em tempo útil e de forma mais natural.
O mesmo está a acontecer na educação, aí por um motivo diferente, mas não menos mau. O desinvestimento do Estado nessa área, o incentivo à emigração de professores há 12 anos pelo então Primeiro-Ministro Passos Coelho e outros sinais negativos, levaram a que os cursos de formação de professores fossem ficando vazios e muitos fossem extintos. Resultado? Hoje entram cerca de mil alunos para estes cursos todos os anos mas, também todos os anos, se vão reformar entre quatro mil e cinco mil professores. Em 2030, provavelmente as escolas estarão ainda piores do que as urgências, porque não se olhou para o problema a tempo, não se planeou a tempo, não se agiu a tempo. Em Portugal estamos mais preocupados em apagar fogos do que em evitá-los mas é sempre preferível apostar na prevenção de um problema do que andar contantemente a queimar recursos para o mitigar.
Voltando à saúde, a resistência à mudança vai levar a uma mudança abruta nos hábitos. Antevejo contestação. Será inevitável. Como ineficaz. Aos enfermeiros serão entregues tarefas que agora são desempenhadas por médicos, como consultas de acompanhamento de doentes crónicos e prescrição de medicação. Mais à frente, já nem os enfermeiros estarão encarregues dessas tarefas. Serão aplicações de Inteligência Artificial a fazê-lo por nós, levando a uma maior desumanização dos cuidados. Tudo porque não se quis mudar a tempo

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4006

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