Nuno Reis

Democracia: entre a retórica e a realidade

A histeria é um vício antigo da política portuguesa. Basta alguém sugerir uma revisão constitucional – mesmo que dentro dos limites mais conservadores – para que logo surjam os arautos do apocalipse a clamar o fim da democracia, o regresso do salazarismo, ou, pior ainda, uma distopia à la Orban. As eleições de 18 de Maio deram à direita parlamentar, pela primeira vez em meio século de democracia, a possibilidade matemática de rever a Constituição sem o aval do PS. E foi quanto bastou para que os supostos defensores da democracia, em bicos de pés e com o nervo sensível, soassem o alarme.


A revisão constitucional: entre o medo e a oportunidade

Portugal, país de brandos costumes, assiste hoje a uma dança política curiosa, com os seus protagonistas a esbracejar no palco da democracia, cada um tentando agarrar a melhor posição para o espectáculo que aí vem. As últimas eleições legislativas, numa ironia quase histórica, deram à direita parlamentar — PSD, CDS, IL e CH — a inédita possibilidade de rever a Constituição sem precisar da bênção do PS.


Uma minoria maior

Por mais que Luís Montenegro deseje proclamar vitória, o resultado das eleições legislativas de 18 de maio é, no fundo, uma elegante derrota disfarçada. A manobra foi clara: precipitar eleições para se furtar ao escrutínio parlamentar da sua incómoda ligação à SPINUMVIVA — essa obscura criatura da promiscuidade entre política e negócios — e tentar conquistar o que eufemisticamente chamou de “maioria maior”. Tradução: maioria absoluta da AD ou algo aritmeticamente possível com a IL.


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