Quaresma: tempo novo de ‘trans-figuração’ e ‘trans-formação’
Uma ideia falsa, mas clara e precisa, terá sempre mais poder no mundo do que uma ideia verdadeira, mas complicada” (Tocqueville).
Uma ideia falsa, mas clara e precisa, terá sempre mais poder no mundo do que uma ideia verdadeira, mas complicada” (Tocqueville).
A Palavra de Deus lança-nos perante o sofrimento e a dor do homem. A equação da vida faz-nos, inevitavelmente, reflectir sobre o sofrimento, sobre a dor, sobre o abandono, sobre o descredito, sobre a amargura e o desgosto da vida e do acto de viver. São tantos os ‘porquês’ que colocamos ... tantas perguntas que ficam – aparentemente – sem resposta. Na verdade, quando eu coloco estes ‘porquês’ eu já estou a rezar. Sim, a rezar.
Após a leitura, simultaneamente intrigante e inquietante, do livro “Silêncio na era do ruido” de Erling Kagge, e que vivamente recomendo a sua leitura, suscitou em mim fazer – e aprender a fazer – silêncio.
O tempo presente tem evidenciado diversos sinais de uma mudança em curso. Os paradigmas e vectores existenciais estão em reformulação. Sentimos que algo de novo está para vir. É certo que não o sabemos com a precisão de que gostaríamos, mas sabemos que algo de novo virá. O ‘como’ e a ‘forma’ deste processo é algo que teremos que aguardar.
Neste mês tão belo, tocado pelas quentes cores outonais e marcado por uma espiritualidade de grata memória por todos aqueles que nos precederam e nos antecederam na fé e nos fizeram quem nós somos, onde as lareiras nos juntam e nos congregam e onde os Seminários voltam à nossa oração e ao nosso coração, colectiva e emocionalmente, a reflexão sobre a vocação, sobre o nosso propósito e sobre o nosso sentido existencial.
Pergunta difícil! “Tu és o que sabes?” foi uma interpelação que pude escutar recentemente a um teólogo num vídeo online. Esta questão é de todo importante. Diria mesmo, essencial. Desde logo porque interpela-nos a perceber se a minha essência e a minha identidade se reflecte e se identifica no que real e verdadeiramente sei e conheço.
A quem serves tu? A esta pergunta certamente responderemos que servimos a nós mesmos ou a quem nos é importante. Sim, é verdade. Todavia, esta pergunta é bem mais profunda do que julgamos pensar. Aliás, ela não quer outra coisa que não fazer-nos infletir, fazer-nos perguntar no mais íntimo de mim mesmo quem é o senhor da minha existência.
Julgo que deveríamos reflectir bem mais sobre nós mesmos e sobre quem são os fundamentos, os intentos e as motivações que norteiam e regem as nossas vidas e as vidas de cada um de nós.
No passado dia 18 de julho, dia litúrgico da memória de São Bartolomeu dos Mártires, patrono da Unidade Pastoral que humilde e alegremente sirvo, foi-nos permitido reflectir, de forma séria e informal, o tema da morte e do luto à luz da Fé e do Evangelho.
A pandemia tem vindo a revelar o princípio de uma grande mudança. Julgo que estamos a iniciar um tempo novo: um tempo com novos paradigmas éticos, socias, políticos, filosóficos e espirituais. O próprio teólogo Walter Kasper afirma que o problema filosófico do acontecimento contingente volta a estar no centro da reflexão hodierna. Mas o que significa isto? Segundo este teólogo, trata-se “de um acontecimento cuja a verificação não é necessária segundo uma lei natural e que, no entanto, é possível”.