O medo de si
Neste contexto tão peculiar, tão diferente e tão incerto, o existencialismo humano assume redobrada importância e um renovado espaço reflexivo nos fóruns íntimos e sociais da pessoa e da comunidade.
Neste contexto tão peculiar, tão diferente e tão incerto, o existencialismo humano assume redobrada importância e um renovado espaço reflexivo nos fóruns íntimos e sociais da pessoa e da comunidade.
Depois de ler o mais recente livro de Bernard-Henri Lévy (“Este vírus que nos enlouquece”) – que, aliás, muito recomendo – fiquei maravilhado com a ousadia e a argúcia com que este filósofo contemporâneo soube abordar, quer do ponto de vista social, quer do ponto de vista político, o tão eclético, transversal e polémico tema do ´fique em casa’ e do ‘politicamente correcto’.
Nestes tempos marcados pelo “distanciamento social”, medida largamente promovida e propagada pelas autoridades civis e de saúde, convém lembrar que a pessoa humana – ser social por natureza – nutre-se pela presença e pelas relações variadas de partilha e de encontro. Temo que esta expressão – “distanciamento social” – venha acentuar as demais assimetrias sociais.
Nesta crescente onda de desleixo e de imprudência, no meio de oportunismos políticos e mediáticos, vemos o raiar de uma nova ‘forma social’, de uma assunção colectiva sem memória e sem história.
De alguma maneira, parece que a história se repete. Muitas são as linhas que nos projetam os anos 20 e 30 do século passado. São tal as semelhanças entre o actual período e o período referido que me faz deixar apreensivo e assustado. Sabemos das consequências das opções dos homens daquele tempo e sabemos – talvez bem demais – da dor provocada por essas mesmíssimas opções.
Não somos, na verdade, povo sem terra e vazio de sentido. Sabemos bem que do ponto de vista antropológico o vazio deixado por alguém ou por algo faz com que, inevitavelmente, seja preenchido por outro alguém ou por outro algo. Não queremos que o espaço da Fé e de Deus seja preenchido por outra coisa qualquer. Gilbert Chesterton (escritor e filósofo) dizia que não há problema em não acreditar em Deus: “o problema é que quando se deixa de acreditar em Deus e se começa a acreditar em qualquer outra farsa, seja na história, na ciência ou em si mesmo, que é a coisa mais brega de todas.
Chegou o momento tão aguardado por tantos de nós: podemos, finalmente, celebrar a Santa Missa em comunidade e no templo santo de Deus. Se há coisa que este tempo novo nos ensinou é que há muitas forças e muitas agendas com um espírito marcadamente anti-clerical. Espanta-me deveras ver a celebração da Fé (seja de qualquer credo que esteja presente no país) comparado com os festivais ou outro tipo de diversão. Mas a Fé é uma diversão, é um espetáculo, uma alegoria?
(continuação da edição anterior)
Tudo é permitido, nada é proibido. O reitor da moral não é a lei, mas o desejo. “Ora, se o desejo é a lei surprema, há que evitar o desagradável e assegurar o agradável. (...) Numa palavra, o império do egoísmo. É o paganismo, ou um novo paganismo” (Frei Ignacio Larrañaga).
Começo este breve preâmbulo para dizer que o tempo hodierno não é nada mais do que o reviver de histórias e processos antigos, não com os mesmo protagonistas (é claro), mas com um seguidismo mais refinado, mais calculado e mais apurado. Falo, naturalmente, do neo-marxismo e do novo absoluto que se afirma, cada vez mais, nas entranhas da humanidade: o secularismo.
Permiti que faça esta reflexão convosco, pois há uns dias que a faço a mim mesmo. É certo que vivemos um período conturbado, repleto de incertezas, de dúvidas e de medos, mas não podemos perder o equilíbrio exigido e necessário. Parece que estamos numa vivência de extremos com linguagens, respostas e comunicações de igual extremismo. Passo a explicar: basta ligarmos a TV para sermos inundados com informação que incita ao medo e à desesperança. Temos aqui a visão mais negativa do problema.