Armando Fernandes

 

 

Elza Chambel

Nasceu no Rio de Janeiro. Tamanina passou a viver em Sobreiro de Cima, de onde eram. As exigências educacionais levaram a sua Mãe a trazê-la com as irmãs para Bragança. Teria nove anos quando a vi a primeira vez. Fiquei extasiado ante a sua beleza, primacialmente, com os olhos impregnados de um intenso azul-cobalto. Morava nos Batoques. A via familiar dava-me o ensejo de a ouvir amiúde, sorrateiramente, de a contemplar. Finalizado o Liceu perdi a luminosidade do seu olhar pois rumou até Coimbra, ali se licenciou em direito.


O desacordo

Eu escrevo conforme me ensinou a Dona Aninhas Castro. Assim continuarei a proceder.
Ela ensinava magnificamente, eu é que desacerto de vez em quando, a pressa do momento não justifica sair do leito da concordância, nem esquecer as admirações e interrogações. Arreliado penitencio-me relendo os Mestres da língua portuguesa, especialmente António Vieira e Manuel Bernardes, também glórias da Igreja.


Justa lembrança

A rememoração da cidade entre outras virtudes tem a de através de enunciação de factos e fautores provocar a saída da toca da obscuridade figuras merecedoras de atenção e lembrança. Pelo menos de lembrança. Às vezes reparo a falta com graça penso eu, outras em imagem baça porque me faltou fino faro nas ventas como possuíam os perdigueiros de formidáveis caçadores que o malogrado Carlos Silva e o Arquitecto Manuel Ferreira a todo o tempo e transe salientava o primeiro e salienta o segundo na narrativa (o termo está na crista da onda) fantástica de índole cinegética.


O Senhor Abade

Dentro das baias do paradigma oficial iniciaram-se as comemorações do século e meio do nascimento de Francisco Manuel Alves, sobejamente conhecido como Abade de Baçal. Eu gostaria de ouvir e ler palavras sobre o estrénuo estudioso de calhaus, pedras e toda a sorte de documentos, fora da caixa da burocracia cultural rica em folhos de seda e fitas de veludo, onde foi colocado e afastado dos móbeis do seu povo que tanto amou e exaltou.


Morder a Mão

A expressão que titula a crónica atravessa os variados universos da gratidão/ingratidão, duas categorias da conduta humana. A novela BES tem revelado múltiplas fórmulas de ingratidão pondo em confronto actores peritos na arte de sacudirem a água do capote, possuídos de estrídula amnésia. Os figurantes desta ópera bufa nem se dão ao trabalho de disfarçar, o apelido Bava passou a significar esquecimento, pairando no ar a certeza de a ingratidão correr a rodos ao modo do deslizar de centenas de milhões de euros sabe-se lá para onde.


Páscoa Feliz

Em 1932 é dada à luz a primeira edição de Páscoa Feliz da autoria de José Rodrigues Miguéis, tão notável como esquecido escritor. Os homens do foro, de todas as condições e escalões, ganhavam saberes se, pelo menos, lessem as sete páginas do primeiro capítulo, os outros, nós, ficaremos enriquecidos espiritualmente lendo a totalidade da novela.


Amadeu

Não fomos íntimos. Nos encontros repartíamos joviais efusões tendo sempre como pano de fundo as nossas terras, as nossas gentes. Na última vez retirou da cabeça a titular boina, vislumbrei pequena incisão, os olhos disseram tudo, o sorriso desmaiado revelou conformismo. Há um mês o escritor Ernesto Rodrigues seu íntimo amigo disse-me do agravamento da maleita, via Internet chegou-me a notícia da morte do indómito Mirandês, o qual personificava o dito pessoano sobre a Pátria ser no caso dele a língua mirandesa. Dizer o quê?


Atitudes

O Engenheiro Jorge Nunes foi eleito pelos autarcas do Norte para vogal da Comissão Directiva do Programa Operacional do Norte. Repito: foi eleito. Aqui há meses escrevi acerca da insólita colocação na prateleira do antigo Presidente da Câmara de Bragança, estando no cadeirão do poder central o Partido a quem ele proporcionou intensas vitórias.


Os pafós

Há sessenta anos no dia de Entrudo os pafós passeavam-se em Bragança exibindo bustos de prateleira e meias de vidro ricas de borbotos apesar da maestria das apanhadeiras da Rua Direita, originando dichotes pesados provindos dos mirones plantados no vai vem do Cruzeiro, junto do Café Chave de Ouro e do Central. É que sobre os corpos desengonçados meneavam-se cabeleiras hirsutas a avolumarem as faces desbarbeadas mas grávidas de rouge e pó de arroz, acrescidos os lábios pintados a vermelho eclatante. Composições bizarras de gozada comicidade.


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