Armando Fernandes

 

 

A chaga das praxes

Ainda ecoam nos ouvidos dos pais das vítimas do Meco o dobrar dos sinos pela trágica morte dos seus filhos e anuncia-se o retorno das malfadadas praxes. Em devido tempo explicitei a razão de detestar a prática de actos humilhantes e tortuosos contra os mais fracos e/ou novatos de uma qualquer instituição só porque e…da praxe.


11 de Setembro de 2001

Naquele dia estava em Vouzela a participar numa jornada cultural quando à hora de almoço soube do ocorrido. Uma familiar muito chegada estava nas imediações de Nova Iorque, pensei o pior, no fim do dia consegui falar-lhe, pela noite dentro pensei no horror, nas vítimas, sobre as nossas vidas a partir daí. Poucas semanas depois senti na pele os maléficos efeitos do hediondo crime pois quando me aprestei a embarcar para os Estados Unidos tive de responder a minucioso inquérito, descalçar os sapatos e ainda pior em Newark ao fazer o transbordo. Nem no aeroporto de Telavive.


E as vítimas?

Transformou-se numa futilidade defender-se a repetida concessão de oportunidades aos criminosos para reingressarem na sociedade que eles maltrataram, infligiram duplo sofrimento ao ponto de praticarem crimes hediondos. Nas televisões peroram especialistas da especialidade de desvalorizarem as vítimas a favor do pior facínora sem coração apenas porque é jovem sem emprego porque os empregos emigraram. Um aparte: os empresários de restauração queixam-se da falta de mão-de-obra e por aí adiante.


Da amizade

Na passada semana almocei com os meus velhos amigos Rogério Rodrigues, João Grego Esteves e Albertino Antunes. O primeiro distinguiu-se como exímio repórter, o segundo no cargo de director de programas na RTP, o terceiro na qualidade de jornalista da área sindical. O Rogério agora cultiva as artes poéticas e o gozo do exílio em Peredo dos Castelhanos, O Grego vê-se grego a decifrar as mensagens encobertas dos falantes nas televisões, o Albertino continua a advogar porque o fisco assim o quer. São gente exemplar, ainda mais no cumprimento do preceito da amizade.


Milhões

Durante trinta e nove anos tive o privilégio de pertencer aos quadros da Fundação Gulbenkian. Procurei e procuro a todo tempo ser digno desse privilégio mesmo que à custa de amargos de boca como já aconteceu. À minha frente se alguém beliscar a nobre Instituição terá reacção a condizer com a picada. Dada a sua importantes acção nas várias áreas do saber e o facto de possuir um Museu recheado de preciosidades não admira que os poderosos do Mundo quando vêm a Lisboa façam questão em visitar a Sede e contemplar obras marcantes de diversas civilizações.


O Sr. Ricardo

Através deste jornal soube da morte do Sr. Ricardo. Estava em casa, fui rever a fotografia onde apareço gordinho, franja, camisola, calção, meias até ao joelho e botas faiscantes. Tinha três anos. No canto do documento – Ricardo fotógrafo – em riscante letra cursiva. Na altura de fazer o exame de admissão voltei a ser retratado por ele, na altura tinha o estúdio num prédio da Rua Direita, depois mudou-se para a Praça da Sé. A sucessão dos dias levou-me a algum convívio com o Sr. Ricardo antes de entrar no mundo da diáspora.


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