A opinião de ...

Elza Chambel

Nasceu no Rio de Janeiro. Tamanina passou a viver em Sobreiro de Cima, de onde eram. As exigências educacionais levaram a sua Mãe a trazê-la com as irmãs para Bragança. Teria nove anos quando a vi a primeira vez. Fiquei extasiado ante a sua beleza, primacialmente, com os olhos impregnados de um intenso azul-cobalto. Morava nos Batoques. A via familiar dava-me o ensejo de a ouvir amiúde, sorrateiramente, de a contemplar. Finalizado o Liceu perdi a luminosidade do seu olhar pois rumou até Coimbra, ali se licenciou em direito. Em 1972 reencontrei-a em Santarém, exercia funções superiores na então Caixa de Previdência. Por via do casamento caiu o apelido Fernandes, içou-o o de Chambel sobejamente conhecido no Ribatejo. Após o 25 de Abril inscreveu-se no Partido Socialista, nunca a militância lhe toldou a mente em especial quando os socialistas exerciam o poder. As suas invulgares qualidades levaram-na a desempenhar cargos de crescente importância apesar das invejas masculinas e dos ciúmes femininos. Os videirinhos tentavam apeá-la quando as laranjas mandavam, só que a memória da sua isenção, o registo do seu desempenho, o prestígio por ela granjeado impediam a consumação da perfídia. Sem surpresas entregaram-lhe crescentes responsabilidades, desde o estudo e conceber medidas tendentes à erradicação da exclusão social em Rabo de Peixe (Açores), ao combate à pobreza no distrito de Setúbal (foi nomeada Alta Comissária do programa) a braços com o flagelo de galopante desemprego e salários em atraso, passando por toda a zona de Lisboa e Vale do Tejo. Não desarmava ante as dificuldades, aproveita todos os ensejos no sentido de levar a carta a Garcia, uma vez em Ponta Delgada convenceu-me a fazer diligências de molde a Fundação doar livros a várias Instituições de Sociais. Não me fiz rogado. Depois de reformada prosseguiu a labuta no domínio da formação, essencialmente, na esfera da defesa dos humilhados, ofendidos, pobres de pedir e envergonhados, lançando forte projecto de ajuda a carentes de tudo. Em 2011, foi a coordenadora nacional do Ano Europeu do Voluntariado. A maleita cancerosa minava-lhe o corpo, não o ânimo, o seu espírito de missão agigantava-se superando o sofrimento. Faleceu no dia 18 de Maio. Dela guardo grata memória, viva lembrança do refulgente olhar. Atrevo-me a sugerir ao Município de Vinhais que distinga a ilustre Mulher que sempre fez questão de realçar a sua origem vinhaense.
Armando Fernandes
PS. O Artur Vaz Pimentel privou com a grande Senhora.

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