A opinião de ...

Justa lembrança

A rememoração da cidade entre outras virtudes tem a de através de enunciação de factos e fautores provocar a saída da toca da obscuridade figuras merecedoras de atenção e lembrança. Pelo menos de lembrança. Às vezes reparo a falta com graça penso eu, outras em imagem baça porque me faltou fino faro nas ventas como possuíam os perdigueiros de formidáveis caçadores que o malogrado Carlos Silva e o Arquitecto Manuel Ferreira a todo o tempo e transe salientava o primeiro e salienta o segundo na narrativa (o termo está na crista da onda) fantástica de índole cinegética. Atrevo-me nesta crónica a referenciar a Dra. Branca Chiote e o Dr. Manuel Pires, discípulos de Hipócrates no amplo sentido do seu labor, atenuando dores de espírito, tratando de maleitas, praticando de forma discreta o transferir dos que podiam pagar para os desvalidos de tudo, logo desprovidos dos escudos necessários à aquisição dos medicamentos. Há meses recordei a bondosa farmacêutica Dra. Margarida Machado, pois mais recentemente soube de fonte fidedigna que tanto a Dra. Branca com o Dr. Pires tinham contas abertas na sua Farmácia destinadas a contabilizar os remédios por eles oferecidos aos doentes. Da primeira guardo sonoras recordações provocadas pelas dores nos molares, não esqueço o sorriso e jubilosas invectivas quando os pontos (testes) não atingiam a positiva. Era buliçosa, alegre, popular e dona de forte presença. Fez-me falta, mas disso não vou falar. Fui uma vez ao consultório do Dr. Pires, O Velho (porque o seu primogénito também era médico «dos olhos»), impressionou-me o carão ainda mais severo pelo efeito do bigode negro cerrado, o olhar incisivo e falar de mando. Depois ao longo dos anos fui encarando aquele senhor grave, aguardado por inúmeros doentes, sempre atarefado, cuja mala do carro quando aberta revelava toda a sorte de vitualhas trazidas da aldeia, e retiradas pela sua fiel e dedicada empregada, a minha parente Emília. Em período de enorme falta de tudo exerceu as funções de Presidente da Câmara, apesar das agruras existentes tentava beneficiar o povo e o concelho, tanto se empenhou que no início do terceiro mandato, de forma abrupta, o punho ditatorial dispensou o do cargo. É óbvio, que outros beneméritos justificam evocação, a usura do tempo e a saída da cidade já quatro dúzias de anos levam a falhas, no essencial, os lembrados foram mulheres e homens donos de qualidades invulgares, logo credoras da nossa estima e admiração. Pelo menos da minha. 

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3523

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