A opinião de ...

A rede e a inteligência

A Barragem do Baixo Sabor está pronta. A da Quinta das Laranjeiras e igualmente a que fez submergir a velhinha ponte da Portela. Ouvi falar na conclusão de um projeto. Nada mais errado. A produção elétrica ainda nem começou. E é para produzir energia que estes dois empreendimentos foram aqui implantados. Sequestrando aos nordestinos em geral e aos moncorvenses em particular, a sua água, o seu rio tal como o conheciam e sobretudo as suas margens, a sua paisagem, muito do seu património e ambiente. É a partir de agora que nos vai faltar a ponte da Silveira, o original Santo Antão, Cilhades e as centenas de amendoeiras, oliveiras, carrascos e zambujeiras. Para que a EDP possa, com a água armazenada, produzir e comercializar energia que vai espalhar pelo país. Provavelmente para exportação em períodos de produção superior às necessidades instantâneas. Garantidamente, dado o funcionamento em rede da distribuição energética, parte dessa energia chegará a Évora. Em condições especiais e com largos benefícios para os consumidores, devido ao projeto SmartGrid (ou InovGrid, cujas diferenças para além do nome, não consigo vislumbrar).
Para além das hipotéticas diferenças entre estas duas formulações do mesmo projeto o que eu igualmente não consigo descortinar é um pingo de justiça ou racionalidade. Se é aos nordestinos que a EDP subtrai os recursos naturais, porque reserva aos alentejanos os benefícios das novidades tecnológicas?
 
Desde sempre que nos habituámos a pagar um preço adicional pelos bens que, abundando noutros locais, escasseiam por cá por causa dos custos de transporte e opoetunidade. Sempre nos habituámos a ver outros beneficiarem economicamente na fruição de produtos que derivem direta ou indiretamente da abundância local de determinados recursos e matérias primas. Porque não se aplica o mesmo princípio à produção hidroelétrica? Porque não pode reverter para os residentes o benefício quer da existência da matéria prima que propulsiona as turbinas da central de produção e a generosa parcela dos enores custos de transporte de energia para quem a consome tão perto da sua origem?
 
Aparentemente (é necessário provar que assim não, que, também neste caso as aparências enganam) não só nos privam dos benefícios naturais associados à localização do empreendimento (já que os constragimentos e inconvenientes não no-los conseguem retirar ou sequer diminuir) como ainda se esquecem de qualquer benefício que a evolução e investimento (que os lucros do sistema do Baixo Sabor vai igualmente financiar) trazem em benefício dos consumidores. A isto acresce algo que se tiver fundamento é ainda mais grave. Quero crer que não passe de uma fase transitória natural do maior empenho e concentração neste período de conclusão de tão importante empreitada. Notícias várias que me chegam de Moncorvo dão conta de um menor empenho (há quem refira um aparente abandono) nos projetos financiados pela produtora a título de compensação pela construção das barragens. Urge uma explicação e igualmente um rápido inverter de atitude. Os benefícios em contrapartida da ocupação permanente do território do rio Sabor não podem esgotar-se na meia-dúzia de projetos bandeira mesmo depois de concluídos. Sendo certo que a sua conclusão não pode nunca ficar em risco!

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3509

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