A opinião de ...

A GRÉCIA, A TROIKA E O BACILO DE KOCH

Durante o fim de semana de Carnaval tive de me dirigir, com um familiar, à urgência do Hospital de Santo António, no Porto. Depois de cinco horas de desesperante espera abandonámos as instalações hospitalares sem qualquer consulta! Não sei as razões para tão dilatado tempo de espera (havia muitos utentes, todos com pulseira amarela, com tempos de espera superiores a 10 horas e sem saberem quando poderiam ser atendidos). Observei, durante o tempo que ali estive as entradas e saídas e elas equivaliam-se. O problema era o atraso que vinha de trás e que não conseguiam anulá-lo ou sequer deminuí-lo. Mais tarde, com reforço da equipa médica foi possível resolver a situação e tudo voltou ao normal. Ou seja, havia uma equivalência entre a oferta e procura de cuidados médicos. Uma situação anormal provocou um desiquilíbrio que só foi resolvido muitas e muitas horas depois. Se o reforço que se operou mais tarde tivesse sido mais cedo, o tempo de espera teria sido muitíssimo inferior. Com o mesmo custo teria havido um enorme ganho para todos. A começar pela própria saúde. Dezenas de pessoas doentes, num espaço confinado, durante várias horas, não é nada saudável.
Isto demonstra que a solução para um problema destes nem sempre passa por um aumento de recursos mas por uma adequada gestão dos mesmos. É possível, com o mesmo dinheiro, a mesma boa vontade e o mesmo empenho fazer o melhor e o pior.
 
É recorrente a discussão sobre o futuro do SNS e sobre a sua sustentabilidade, dados os custos que, exponencialmente, a saúde pública vai exigindo. O combate às doenças que nos afligem faz-se com recurso a equipamento sofisticadíssimo, exames complexos e medicamentos inovadores que, cada um a seu jeito, são sinónimo de elevado preço de uso. Se nada, de diferente, se fizer, a situação não melhora. Fazer o quê?
 
É bom não esquecer que não são os medicamentos que curam as doenças. Estes ajudam. Umas vezes mais, outras menos. Por isso é que nuns casos funcionam tão bem. Noutros não. E há casos em que são absolutamente desnecessários. Mesmo quando ajudam nem sempre é na proporção que se supõe. Richard Charles Lewontin garante que antes da introdução da terapia química para combater o bacilo de Koch, já a doença tinha observado um decréscimo de 90%... devido à melhoria das condições de vida! Sendo certo que o aumento da tuberculose no século anterior, embora acertadamente se atribua ao bacilo descoberto pelo cientista alemão, em boa verdade deve a sua grande incidência e expansão ao “capitalismo competitivo do desregulado século XIX”.
 
Facilmente se entenderá que a robustez do doente é fundamental para o combate a toda e qualquer maleita. Portanto uma forma de diminuir os gastos com saúde e de reforçar a sustentabilidade do SNS pode passar mais pelo aumento das reformas e salário mínimo do que pelo corte nos medicamentos e profissionais de saúde. Contra o que a Troika decretou. Espero que à Grécia seja dada a oportunidade de o provar!

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