A opinião de ...

Os factos, as convicções, os sofismas e os delírios…

- Depois das presidenciais americanas de 2020, Trump, sem uma única prova, apelidou de fraude a vitória de Biden, no que foi secundado por cerca de 70% dos seus apoiantes. Como interpretar esta situação? Não tenho dúvidas em afirmar que Trump estava consciente da sua mentira, mas não direi o mesmo em relação aos seus apoiantes, que, por força dum distúrbio psicótico gerado pelo seu fanatismo, confundiam a realidade com os seus delírios.

2 - À primeira vista, parece que estes factos vêm dar razão aos sofistas gregos que, há 25 séculos, diziam que a verdade não era possível, incentivando, por isso, os seus alunos, a recorrerem a sofismas, ou seja, a mentiras com a aparência de verdade, para “venderem gato por lebre” aos seus ouvintes.
Foi isto que eu disse, há dias, a um amigo meu, apoiante do PSD, a propósito dos comentários quase diários, nas tvs, de Marcelo Rebelo de Sousa sobre questões da governação. O meu amigo discordou, o que é normal quando se trata de opiniões ou convicções.

3 – No entanto, não podemos confundir convicções com sofismas, porque, neste caso, trata-se duma mentira disfarçada de verdade. Estou a lembrar-me duma entrevista de Passos Coelho à SIC, em Março de 2016, em que ele garantiu que o governo de A. Costa só iria durar alguns meses, porque o orçamento aprovado pela geringonça previa a devolução de rendimentos aos portugueses, o que iria tornar impossível o controlo do défice nos 3% exigidos por Bruxelas, pelo que a troika iria regressar, acompanhada do regresso de Passos Coelho ao governo.
Só que, felizmente para os portugueses, a “profecia” de Passos Coelho saiu errada e o país não precisou de recorrer novamente à sua “austeridade além da troika”, que o levou a retirar, aos reformados, entre 2011-2015, 5 meses de reforma, acrescidos de mais cerca de 14% da reforma mensal. E, depois disso tudo, ainda aumentou a dívida pública de 114% para 131% do PIB e o número de desempregados nunca desceu dos 12,9%. Em 2016, pelo contrário, o défice ficou nos 1,4% e, em 4 anos, a dívida pública diminuiu para 116,6% e o número de desempregados desceu para 6,6% (Pordata).
Apesar desta contradição entre os factos e as previsões de Passos Coelho, este não só não teve a nobreza de reconhecer o erro da sua política e da sua “profecia”, como ainda teve o descaramento, em Dezembro de 2016, de classificar os resultados obtidos por A. Costa como fruto do governo PSD-CDS.

4 - Numa situação destas, assim como no caso das eleições americanas, a verdade duns não pode ser a mentira doutros, porque os factos são factos e não convicções. E se, em relação às convicções, a opinião duns é a negação doutros e vice-versa – todos merecendo o respeito uns dos outros -, em relação a factos comprovados pode haver pessoas que, por ausência total de consciência moral, os classifiquem de mentiras, ou, por razões de ordem psicanalítica, os distorçam à luz dos seus delírios. Mas as mentiras e os delírios de quem quer que seja nunca poderão negar a verdade, quando factos irrefutáveis a fundamentam.

5 - Aplicando estes conceitos ao que se está a passar com as tvs portuguesas, não posso deixar de me arrepiar com a manipulação dos telejornais, que confundem informação com opinião, substituindo a investigação dos factos pelos comentários ou até delírios de quem apenas se move por interesses pessoais, como acontece com Marques Mendes, Ana Gomes e José Miguel Júdice, entre outros.

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