A opinião de ...

A história tende a repetir-se

Ciclicamente, a história tende a repetir-se. Daí a necessidade de estudarmos a história para aprendermos com os erros cometidos e não os repetirmos.
Há cerca de um século, quando o mundo enfrentou uma outra pandemia, de gripe espanhola, também houve necessidade de recorrer ao confinamento.
Na altura, as condições que se viviam na generalidade das aldeias e cidades portuguesas não eram, nem de longe nem de perto, as mesmas que se vivem atualmente.
Por cá, no Nordeste Transmontano, houve aldeias que viram a sua população encolher em cerca de um terço. Outras, em dez por cento, devido às mortes provocadas pela “influenza”, que foi mais mortífera num ano do que a própria Grande Guerra em quatro. Estima-se que, em todo o mundo, entre 1918 e 1920, possam ter morrido cerca de cem milhões de pessoas em todo o mundo.
Então, como agora, foi necessário recorrer a medidas de confinamento. O ano letivo foi suspenso e em muitos sítios, rezam as crónicas, nem foi possível festejar a vitória na Guerra, fecharam-se comércios, repartições públicas, serviços. Mas, se agora foi por precaução, na altura foi por todos estarem infetados.
Também a Gripe Espanhola foi chegando em vagas, como um inimigo silencioso. A primeira no início da primavera de 1918. A segunda vaga veio, no final do verão, e revelou-se a mais mortífera. No início de 1919 surgiria uma terceira vaga.
Entre setembro e novembro, chegaram ao país milhares de pessoas retornadas das colheitas em França, além de milhares de repatriados portugueses que voltavam dos cenários de guerra. De norte a sul de Portugal, iriam morrer da doença um total de 50 a 70 mil pessoas.
Por essa altura, a nova composição da gripe espanhola permitia que fosse agora mais letal não só para os idosos, mas também para os jovens e adultos saudáveis. E se num primeiro momento a população ainda compreendeu e acatou as medidas de contenção decretadas, com o passar dos meses a paciência esgotou-se e criaram-se movimentos de contestação.
Um século depois, a história parece tirada a papel químico. Se, na altura, a I Grande Guerra e o movimento de tropas potenciou a disseminação do vírus pelo mundo, hoje em dia é a facilidade de deslocação e um estilo de vida em que os cidadãos são cada vez mais cidadãos do mundo e não de um país que potencia o desastre.
Agora também se assiste ao início de uma segunda vaga. Ainda esta segunda-feira registou-se o dia com mais contágios em apenas 24 horas. Foram 183 mil novos casos.
Por cá, no Nordeste Transmontano, confirma-se a tendência nacional, em que a faixa etária mais afetada situa-se entre os 20 e os 30 anos. A generalidade dos novos casos das últimas duas semanas eram dessa faixa etária e começaram a surgir depois de semanas de alertas sobre festas e ajuntamentos um pouco por toda a cidade de Bragança (sobretudo). Mas os jovens brigantinos não são diferentes dos do Algarve ou do Minho, pois são recorrentes as notícias de cada vez mais frequentes e cada vez maiores ajuntamentos de jovens.
O Governo estuda novas formas de repressão destes comportamentos, entregando o assunto às autoridades. Mas a questão fica. Como se justificam estes comportamentos? Com tanta informação, porque é que os mais jovens têm cada vez mais dificuldades em manter o distanciamento? Será esta a melhor forma de lidar com o problema?
Três meses é muito tempo e os jovens de hoje não são conhecidos pela paciência...

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