A opinião de ...

Visita

Eis-me em Londres e, a seguir, Newcastle – obrigações de avós. Tivera eu a verve do nosso Eça e aventurar-me-ia a aprofundar alguns aspetos destas duas cidades; dominara eu a historiografia inglesa, e atrever-me-ia a escrever algumas crónicas. Usarei de temperança. Deixo apenas algumas notas que decorrem das visitas feitas ao Reino Unido.
Desde logo, em Londres, atualmente:
1. Verifico que os índices de poluição atmosférica nesta cidade (e noutras) caiu substancialmente, como consequência da redução dos níveis de dióxido de carbono provocado pelo intenso tráfego de veículos. Sabemos, secundando a douta opinião de cientistas e ecologistas, que a poluição atmosférica só diminuirá com medidas drásticas. Aqui e nas nossas cidades. A intergeracionalidade é obrigação nossa.
2. As restrições impostas pelo governo inglês ao turismo dirigido a Portugal deixou os ingleses perplexos, como ouvi, aqui, nos noticiários. Têm alguns ingleses em Portugal um porto seguro para viajarem aos magotes sem cuidarem da qualidade exigida – algo que nos deveria preocupar a nós, portugueses, que desejamos turistas, mas não a qualquer custo.
3. Apesar do esforço, há zonas da cidade de Londres onde o lixo abunda; também nesta matéria não vislumbro lições.
4. Estiveram suspensas as atividades culturais em teatros, museus e festivais; no entanto, recomeçam lentamente. Não se sabe quando será a intervenção de Tiago Rodrigues, filho do moncorvense Rogério Rodrigues, diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, que encena Saramago (aliás, vem encenando em alguns países europeus), com a Royal Shakespeare Company em espetáculos que deveriam ter sido realizados no Verão de 2020. No museu Tate Britain irá decorrer uma exposição de Paula Rego, pintora muito apreciada no Reino Unido entre 07.07 e 24.10.
5. O recente encontro entre Biden e Johnson carateriza o entendimento entre os dois aliados tradicionais, pretendendo ambos retomar a sua “relação especial” e unir as democracias contra as autocracias.
De Newcastle.
6. Na fria e húmida e negra (por causa do carvão) cidade do Norte, ali cônsul entre 1874 e 1879, escreveu Eça de Queirós entre outros, O Primo Basílio, A Tragédia da Rua das Flores, Crónicas de Inglaterra, além de correspondência consular. Queixava-se ele ao seu amigo Ramalho Ortigão da miseranda situação dos trabalhadores e das ruas lamacentas. Hoje, a humidade é menor, e deixou a cidade de ser operária, transformando-se num grande centro universitário e de serviços. Ao fundo da urbe, que tem, julgo, algumas parecenças com a cidade do Porto, corre o rio Tyne, uma amostra de rio se o comparamos ao nosso Douro. O que lhe valeu o comentário jocoso de “riozinho com ar ridículo”. Atenção: o município colocou uma placa no número 53 da Grey Street, aludindo à presença de Eça de Queirós durante cinco anos.
7. Num dos jardins, perto da igreja de S. Tomás (a propósito, as pessoas seguem atentamente a liturgia!), deparei com o memorial aos fuzileiros que serviram na I Grande Guerra, com a inscrição “non sibi sed patriae”. Lembrei-me do merecido “prémio” – eu que sou antiguerras, embora tivesse ido à guerra – conferido pelo nosso Governo aos ex-combatentes na Guerra Colonial.

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