Inteligência Artificial está para ficar na Educação mas especialistas vieram a Bragança alertar para os riscos

A Inteligência Artificial generativa está para ficar e promete revolucionar as nossas vidas mas há riscos que devem ser evitados, defenderam especialistas durante um seminário que decorreu sexta-feira e sábado na Escola Superior de Educação (ESE) do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), o INCTE.
“Esta é a nona edição do encontro internacional de formação na docência. Privilegia sobretudo a área da formação de professores, com diferentes eixos temáticos, seja da didática, das metodologias de ensino, do currículo, das questões de formação do ensino superior e, também, da educação para o desenvolvimento. É um encontro que já existe há nove anos. Tem sido sempre aqui mas, provavelmente, no próximo ano faremos numa universidade no estrangeiro, para o ampliar”, explicou ao Mensageiro Cristina Mesquita, da organização.
A mesma responsável frisa que “estas aplicações [de IA generativa] precisam de uma reflexão profunda”.
“Podem encaminhar-nos para uma perda de autonomia e de autonomia de pensamento, de consciência crítica, pelo facilitismo que produzem e pela falta de geração de ideias. Há apenas um fazer o que já está feito. Precisamos de criar novas ideias e só um ser pensante o consegue fazer. Precisamos de uma consciência crítica. Não estamos contra a utilização mas estamos contra a utilização mediada por este pensamento crítico.
E é este o propósito deste encontro. Por isso trouxemos especialistas ao mais alto nível”, disse.
Cristina Mesquita considera que é “inevitável” o uso de “todas as ferramentas que possam ajudar o professor a melhorar a qualidade das suas aulas”. “Não penso que é obrigatório em todas as aulas, não penso que é obrigatório em todas as disciplinas.
Não sou particularmente contra a utilização. É como os telemóveis. Se existem, devemos dar-lhes o melhor uso. O professor que conseguir introduzir nas suas aulas o uso da Inteligência Artificial ou de outras plataformas e programas, será um professor inteligente, desde que seja para trazer vantagens à aprendizagem”, precisou.
Perigos para a Humanidade
Já Agnè Paulauskaite-Taraseviciene investigadora lituana, reconhece que a IA traz impactos positivos mas alerta para alguns riscos. “Trabalho num centro de investigação na Lituânia em que tento educar as pessoas para um uso responsável da tecnologia, pois pode ter impactos positivos e negativos. É como qualquer outra tecnologia. A forma como a utilizamos é que pode ser mais positiva ou mais nefasta”, disse ao Mensageiro.
Como exemplos, aponta áreas como a medicina. “Os usos positivos passam, por exemplo, por ajudar, na medicina, a perceber melhor determinadas doenças. Sobretudo, na análise de dados [big data]. Mas a decisão final deve caber a seres humanos. Por exemplo, hoje em dia fala-se em veículos autónomos. Mas há uma linha vermelha. Se houver um acidente, de quem é a culpa?
Por outro lado, nos modelos que dependem muito da linguagem, devemos ter muito cuidado. Quem não perceber esta tecnologia pode utilizá-la de forma errada.
Por exemplo, no Direito, na Medicina, é preciso ter muito cuidado na forma como se utiliza. A decisão final deve caber a seres humanos”, sublinhou.
Apesar de um estudo recente em Portugal apontar para a perda de um terço das profissões atualmente existente num futuro próximo, a investigadora lituana não tem uma visão pessimista. “Algumas das profissões irão desaparecer mas serão substituídas por outras que serão criadas. A maioria delas serão em especialização na colaboração entre seres humanos e robôs e IA. Mas a sustentabilidade, a arte ou a educação continuarão a ser muito importantes.
Alguns dos empregos rotineiros, serão afetados pela automação. Significa que temos de apostar em mais qualificações”, explicou.
Agnè Paulauskaite considera que profissões com um uso extensivo de linguagem não estão ameaçadas, como os advogados, juízes ou jornalistas. “Acho que não porque estamos a falar de áreas com informação muito sensível. As mais ameaçadas são funções em fábricas, em que se façam tarefas rotineiras e repetitivas, de análise e introdução de dados”, sublinhou.
“Mas há uma visão diferente entre a Europa e os EUA. Estive em Las Vegas, num congresso, e toda a gente falava em start ups, em inovação, em dinheiro.
Já na Europa, em Amsterdão, foi totalmente diferente. O foco foi a sustentabilidade, como verificar o sistema, como usar IA explicável. Gosto mais”, concluiu.
Este ano estiveram presentes cerca de 200 autores com 75 comunicações.