Incêndio, a tragédia anunciada que ninguém quis ver (1)
hega de charlatanice, demagogia e aproveitamento oportunista da situação extremamente grave provocada pela maior e mais grave vaga de incêndios de que há memória, que começou no norte, vai para um mês, desceu para o centro e voltou para o norte, deixando atrás de si, com o maior rasto de destruição de que há memória nos últimos cinquenta anos, a certeza inquestionável da natureza criminosa de fogo posto na grande maioria dos piores incêndios, provocados impunemente pela ignorância, selvajaria e instintos de malvadez dos seus autores.
Não menos criminosa e condenável, haja a honestidade e a coragem de o reconhecer, é a inépcia, a incompetência, o desleixo e a leviandade com que os responsáveis políticos, ao longo dos últimos cinquenta anos, com especial incidência nos anos que se seguiram aos trágicos fogos de 2027, têm encarado este fenómeno, com os resultados que estão bem à vista.
Esses e outros senhores, não aprenderam nada com a tragédia de Pedrogão Grande, e agora, em vez de, atempadamente, se preocuparem em prever, analisar e, por antecipação, procurar soluções válidas para os grandes dificuldades e desafios do futuro, são os maiores, se não mesmo os únicos culpados da origem desta calamidade que ameaça reduzir a cinzas todo o país, com consequências incalculáveis para o nosso futuro comum.
Porque não é a oportunidade de mexer no lixo da história recente, atente-se na pressa com que todos lançaram para trás das costas o incomodo que lhes causava a lembrança daqueles dias terríveis para, no conforto das mordomias de que disfrutam nos corredores do poder, continuarem a passar o tempo a divertir-se aos joguinhos políticos de baixa política, a exibir a sua verborreia inútil e insolente em interpolações aos governos, a brincar às moções de censura ou de confiança a propósito de tudo e de nada, e às audições parlamentares anedóticas, só para perpetuarem a sua presença inútil nos corredores do poder.
É no meio desta gentalha que estão os verdadeiros culpados e devem ser identificadas as verdadeiras causas desta avalanche dantesca de incêndios , cada qual o mais inexplicável, o maior, o mais grave e o mais devastador, sem esquecer que, na proporção da responsabilidade de cada um, muito pouca gente estará isenta de culpa para poder atirar a primeira pedra.
É aqui que devem ser encontrados os verdadeiros responsáveis e os grandes culpados tanto pelo estado vergonhoso de total abandono a que, nos últimos cinquenta anos, foram votadas pelos poderes públicos as terras do interior norte e centro do território nacional, agora transformadas em matagais inacessíveis sem qualquer ordenamento racional nem interesse económico, cujas consequências são por demais evidentes:
- A impossibilidade de combater vagas de incêndios como a deste ano;
- Os 257 bombeiros mortos nos últimos 45 anos;
- Os 2 bombeiros mortos e os 240 feridos nas duas últimas semanas;
- Os milhões dos custos diretos no combate aos incêndios;
- Os muitos biliões de euros de prejuízos provocados no meio ambiente, nas casas, nas florestas, nas culturas do azeite, do vinho, dos frutos secos e nos mais diversos produtos da horticultura, cujo escassez, inevitavelmente, irá fazer subir a pique o seu preço nos mercados. (Continua)