A opinião de ...

11 de Setembro de 2001

Naquele dia estava em Vouzela a participar numa jornada cultural quando à hora de almoço soube do ocorrido. Uma familiar muito chegada estava nas imediações de Nova Iorque, pensei o pior, no fim do dia consegui falar-lhe, pela noite dentro pensei no horror, nas vítimas, sobre as nossas vidas a partir daí. Poucas semanas depois senti na pele os maléficos efeitos do hediondo crime pois quando me aprestei a embarcar para os Estados Unidos tive de responder a minucioso inquérito, descalçar os sapatos e ainda pior em Newark ao fazer o transbordo. Nem no aeroporto de Telavive. Tudo se alterou, a democracia sofreu enorme atentado, à especialização terrorista os estados responderam através de múltiplas formulações securitárias, o Mundo ficou menos fiável, todos nos fizemos medrosos mergulhando no mar da desconfiança. Regredimos, os que nunca saíram da idade das trevas tudo estão a fazer na ânsia de nos obrigarem a participar no seu quotidiano de fundamentalismo pintado a sangue, numa mistura de ódio, exclusão e violência. Há treze anos imbecis envernizados dando o braço a ortodoxos políticos entre lamúrias foram deixando cair a ideia de que: a América estava a pedi-las. Lembram-se? Não vale a pena citar nomes, vale a pena meditarmos nas ameaças provindas de radicais islâmicos, já falam em nova invasão da Península, para já referem abertamente o Al-Andalus, a seguir o resto. Não estou a exagerar, aquela horda fanática é capaz de tudo, a história regista as consequências do nada fazer-se a tempo logo a horas, por essas e outras Bizâncio foi o que foi, no século XX a II Grande Guerra veio na sequência da apatia ou estreiteza de vistas dos governantes. Todos quantos o futuro os preocupa devem tomar posição no sentido da defesa dos valores da civilização ocidental. Os tontos ou despreocupados podem gracejar ou vomitar jocosidades na tentativa de os apoucar, é normal, a prospectiva exige estudo e reflexão. Nunca se falou tanto, não se dizendo nada. A nefanda prática da degola volta a ser espectáculo tenebroso, em Portugal existe a povoação Degolado, duas Degolados, para que não restem dúvidas sobre esse exercício na por cá, Cícero foi degolado porque Marco António não apreciava as subtilezas da cultura. A partir da fatídica data a caça à cultura aumentou, Adriano Moreira, António Barreto e José Gil bem clamam contra o apagamento dos intelectuais. Debalde. Mesmo eles correm riscos de silenciamento. Prolifera o espectáculo efémero.

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