A opinião de ...

Os campeonatos da parolada

Enquanto a Ásia e a África conhecem os efeitos da tragédia trazida pelo Coronavírus-2 e os europeus tentam minimizar a sua, os líderes dos EUA, do Brasil e de Portugal parecem ter entrado numa tragédia grega em que querem fazer, ao mesmo tempo, os papéis de ator, de ponto e de coro não se apercebendo de que estão a desenvolver vários campeonatos de parolice. Especifiquemos.
Nos EUA, após a crise racial negros-brancos provocada pela morte, por estrangulamento, de George Floyd às mãos de um agente da Polícia de Minneápolis, o Presidente Donald Trump condescendeu em que os agentes dos corpos policiais podem continuar a violentar os presos desobedientes, desde que não seja por estrangulamento.
No Brasil, Jair Bolsonaro, o Presidente, tem dito que o país ainda só tem, proporcionalmente, metade dos mortos de Itália, de Espanha, do Reino Unido e dos EUA e que, por isso, a situação não é grave apesar do milhão de pessoas infetadas, número que, proporcionalmente à população, coloca o país como o mais infetado do mundo.
Em Portugal, a parolada tem tido episódios diversos começando pelos cidadãos comuns, muitos dos quais têm feito festas negligentes em termos de distanciamento social e de respeito pelo direito ao descanso de quem trabalha, com o Governo como mero observador, a admitir, só agora e por sugestão do chanceler do «Reino», o Presidente Marcelo, que é necessário tomar medidas mais duras e punitivas. Em Portugal, é sempre assim: casa roubada, trancas à porta. Prevenção, pouca; bom senso, zero.
Neste período de algum desnorte, tanto do Presidente Marcelo como do PM Costa, elogiar a realização, em Lisboa, da fase final da Liga dos Campeões Europeus de Futebol– porque mais nenhum dirigente de qualquer país a quis levar consigo nas condições em que a prova tem de realizar-se -, é realmente um Portugal dos pequeninos e de muita parolada que vem ao de cima.
Dizer, ainda por cima, que tal prova «também é um prémio para os profissionais de saúde» é, no mínimo, uma daquelas bacouradas que os pobres dos políticos dizem, de vez em quando, porque têm de falar sempre e porque o cansaço os atraiçoa, além de que o papel de «bobo da corte» exige muita criatividade, que uma constante vida de «stress» vai diminuindo.
Este pressuposto «prémio» é logo contradito pela proibição de pessoas saídas de Portugal viajarem para 17 países com base no critério de disseminação da doença que, obviamente, é o que conta, nestas circunstâncias, e não qualquer outro.
Para fechar o ramalhete das parolices, eis Mário Centeno, agora «o sem-terreno», a demitir-se de Ministro das Finanças por ter terminado o mandato como Presidente do Eurogrupo mas a fugir dos enormes problemas que o país está a enfrentar tal como fizeram António Guterres, Jorge Coelho e Durão Barroso. Em Portugal, fugir dos problemas é a forma de perpetuar o prestígio conquistado, mesmo que o barco afunde.
Confesso que, à luz dos meus valores, não conheço maior parolada e maior tragédia.

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