A opinião de ...

Ser, parecer e a mulher de César

Dos romanos herdámos muitas coisas, da arquitetura às leis, da linguagem à organização administrativa. Mas também herdámos muitos provérbios.
Um dos mais utilizados na política é aquele que se refere a Pompeia, segunda mulher de César.
Apesar de não ter prevaricado contra o casamento quando decidiu fazer uma festa apenas reservada a mulheres, ficou sob suspeita depois de um rapaz ter conseguido furar a proibição, entrando disfarçado de mulher.
Júlio César acabou por se divorciar de Pompeia, dizendo que "à mulher de César não basta ser séria, também tem de o parecer".
Portanto, aplicando o provérbio tornado popular, a um político ou governante não basta ser sério, as suas ações também o devem demonstrar sem qualquer sombra de dúvida.
Ora, será que todos os responsáveis governativos podem gabar-se de agirem sem qualquer mácula de suspeita no caso referente à venda das barragens da EDP?
Durante meses, o Mensageiro de Bragança, dando eco das dúvidas populares e dos deputados do PSD pelo distrito, foi dando conta do negócio da venda das barragens e da vontade de beneficiar a região com isso.
Durante anos, a EDP tem pago os seus impostos, como a Derrama, no município no qual tem a sede, apesar de os imóveis que deram origem aos lucros tributados se situarem no distrito de Bragança. A própria EDP já tinha expressado, há mais de uma década, a vontade de que pelo menos parte desse dinheiro ficasse nos municípios da região transmontana.
Os Governos e as autoridades fiscais sempre fizeram orelhas moucas.
Mas já foram expeditos a propor e aprovar um regime de regalias fiscais para a reorganização de empresas.
A EDP, sendo uma empresa privada, que procura o lucro como todas as empresas privadas, tratou de fazer pela vida e fez as diligências necessárias para aproveitar da melhor forma os alçapões previstos pelas leis. Será moral? Nem por isso. Mas é legal? É.
Será que o mesmo se pode dizer da qtuação de quem deveria zelar pelo interesse de todos (ou da maioria) e não apenas o de alguns privados? A forma como todo o processo tem sido conduzido ao nível das entidades públicas, com diversas contradições como se soube esta semana, contrariando pareceres e o bom senso e avançando à força toda com a aprovação de um negócio que em nada favorece os portugueses, já para não falar dos transmontanos, deixa muito espaço para suspeitas de falta de seriedade (eufemísticamente falando). A tal ponto que até o Ministério Público considerou haver matéria suficiente para investigar.
Depois, tal como Pompeia, admiram-se do crescente divórcio entre os portugueses e quem governa...

Este caso é demonstrativo da importância de dotar as regiões de centros de decisão de nível mais elevado, que possam zelar pelos maiores interesses das populações locais.
Mais proximidade, decisão mais fundamentada.
Isso nota-se, também, ao nível televisivo. Desde que a TVI mudou de corpo acionista e virou a norte, tem aprofundado a sua presença por este território. A tal ponto que até já há empresas brigantinas a contribuir para a construção de cenários de alguns dos mais importantes programas da estação, como os de Cristina Ferreira, por exemplo. Um bom exemplo.

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