Matematicamente pensando: Casas e famílias
Ter uma casa para viver é uma meta para cada núcleo familiar, independentemente do número de pessoas que o constitui. Considerando “casa” como qualquer edifício destinado à habitação, o bem-estar de cada pessoa é influenciado pelas caraterísticas da casa que habita. No entanto, o equilíbrio entre as casas necessárias para uma certa comunidade e aquelas que existem disponíveis constitui uma equação de difícil resolução. Difícil porque há casas prontas a habitar e não há quem as alugue ou compre e, por outro lado, há famílias com necessidades extremas de casa que não têm condições (económicas) para as poderem adquirir.
A aparente contradição entre o número de casas não habitadas e o número de casas necessárias, em Portugal, está bem patente nas duas frases seguintes, extraídas do jornal DN de 26-11-2012: “735 128. É o número de casas vazias que existe em Portugal. Os números fazem parte dos Censos 2011” (p. 5); “Em Portugal, há 450 mil famílias a viver em casas sobrelotadas (…)” (p. 4). É evidente que 735 mil casas vazias é um número muito superior ao de 450 mil casas necessárias.
Um dos desafios de cada Governo é contribuir para que exista algum equilíbrio entre os investimentos realizados e a sua utilidade. Acredito que a maior dificuldade dos Governos tem sido conjugar a verdade dos números com as respostas aparentes a dificuldades momentâneas. Mas, trabalhar sem números e sem estimativas fundamentadas é trabalhar com palpites, abrindo caminho à injustiça e à imprevisibilidade.
Depois dos problemas surgirem não adianta encontrar culpados, mas é essencial encontrar soluções. É urgente solucionar os problemas das várias empresas que investiram na construção de casas e hoje têm casas que ninguém compra ou aluga, ao mesmo tempo que se veem sufocadas com encargos financeiros e com a impossibilidade de manterem os trabalhadores, assim como proporcionar condições dignas às famílias que delas necessitem.
As casas sobrelotadas traduzem um conjunto de problemas sem fim à vista. O bem-estar da sociedade começa no bem-estar individual. Viver em condições precárias é um primeiro passo para a insegurança e para a incerteza.
Tem sido opção dos vários governos retirarem dinheiro onde pensam que ainda existe, sem olhar com profundidade para as consequências. Concordo com a ideia que se lute por igualdade de oportunidades. Mas a igualdade de oportunidade à partida não conduz, necessariamente, à igualdade à chegada.
Se continuarmos a retirar o máximo a todos os que conseguiram acumular riqueza, ter uma reforma aceitável, um vencimento acima da média ou lucros elevados nas empresas, como será possível ter força e motivação para poupar, estudar mais, trabalhar mais ou investir mais?
Se os vencimentos não tivessem tido os cortes que tiveram, as empresas não tivessem sido tão sobrecarregadas com juros e impostos, o desequilíbrio entre o número de casas vazias e o número de casas necessárias seria tão grande?
Parece ser simples de aceitar que vender muitos produtos e ganhar pouco em cada um pode ser equivalente, em termos de ganhos, a vender poucos e ganhar muito em cada um. O mesmo se passa com os impostos, retirar muito sempre aos mesmos pode ser equivalente a retirar menos a maior número de pessoas. A possibilidade de todos ficarmos pobres, não só prejudica os que ainda têm uma vida equilibrada como torna ainda mais pobres aqueles que, infelizmente, já vivem em situação de pobreza.