Adriano Moreira

A MAIORIA DESERDADA

Quando Josué de Castro obrigou a concentrar as atenções de todos os responsáveis sobre a geografia da fome, sem distinção entre povos separados pelo Muro de Berlim, não foi animado de um espírito de derrotismo, mas com esperança de que a solução do flagelo levasse à mobilização contra a realidade inquietante.


A PRIVATIZAÇÃO DA DESORDEM

Duas calamidades atingem hoje, com êxito financeiro, o que foram pressupostos da Carta da ONU e da Declaração de Direitos, e que são a privatização da guerra e a organização das migrações que afligem os governos do destino e fazem do Mediterrânio um cemitério. É de admitir a hipótese de haver alguma relação entre motores empresariais ilícitos de tais catástrofes, mas a realidade não precisa de hipóteses porque a evidência é gritante.


A guerra

Talvez a guerra mais ameaçadora em curso seja aquela que foi benignamente chamada “construção de um movimento para a justiça climática”, em que se distinguiram duas organizações não governamentais, a Climate Action Network e a Climate Justiçe Now, cuja arma principal foi pressionar os governos, baseados na conclusão de que “as crises económica, financeira, e climática, estão intimamente ligadas”. Estávamos a viver as inquietações que animaram a Conferência de Copenhague, que decorreu de 7 a 18 de Dezembro de 2009, no quadro da Convenção da ONU sobre as alterações climáticas.


OS REFUGIADOS E OS DIREITOS DO HOMEM

Entre os problemas suscitados pela onda de refugiados que procuram a salvaguarda da vida e do futuro na Europa, levanta-se a questão dos obstáculos existentes quanto à universalização dos Direitos Humanos, tal como consagrados pela ONU. Talvez nem sempre apareça na meditação o facto de que a Declaração da ONU, e os precedentes americanos e franceses, são de origem ocidental, e que aqui está seguramente uma das dificuldades.


A EVOLUÇÃO DA CPLP

Quando, em 1964 e 1966, se realizaram os primeiro e segundo Congressos das Comunidades de Cultura Portuguesa, por iniciativa da Sociedade de Geografia de Lisboa, à qual então presidia, sabíamos que a estrutura do Império Euromundista da frente atlântica europeia, esperava já pela certidão de óbito na ONU. Nesta data, sobreviventes a essas iniciativas, existe a Academia Internacional da Cultura Portuguesa em atividade, e a União das Comunidades de Cultura Portuguesa suspensa pelo facto de, em moldes diferentes, o tema ter passado para a orbita governamental.


A nova Ordem

Falar na nova ordem desperta simultaneamente a atenção pessimista para o pousio a que progressivamente parece condenada a ONU, e por outro lado, a esperança de que estadistas ainda ignorados ou mal conhecidos, tenham o talento, até agora perdido, de mobilizar as sociedades civis sacrificadas para uma nova esperança de desenvolvimento sustentado.


As imigrações que buscam a Europa

Não podemos deixar de lembrar o visionário Agostinho da Silva, cujas obras completas estão em publicação, e que depois de ajudar a formar o Brasil Moderno, imaginou uma sementeira de centros culturais ao redor da Terra – Ceuta, Índia, Malaca, Goa, Macau, Brasília. Amarras da cultura portuguesa misegenada pelas distâncias, pelos tempos, pelas políticas.


A DIÁSPORA EM MUDANÇA

Talvez seja de lembrar que há uma relação anterior ao que chamamos lusofonia e diásporas, que é a relação entre conquista e povoamento, submetendo as populações nativas. Para entender a evolução até à entrada neste século XXI, é justo lembrar a doutrina de teólogos e jurista, do que já foi apropriadamente chamado Escola Ibérica da Paz, uma edição preciosa da Universidade de Cantabria (2014) sob a direção de Pedro Calefate, Ramón Emílio Mandado Gutierrez, e um excelente Prefácio de António Augusto Cançado Trindade.


Assinaturas MDB