A opinião de ...

A EVOLUÇÃO DA CPLP

Quando, em 1964 e 1966, se realizaram os primeiro e segundo Congressos das Comunidades de Cultura Portuguesa, por iniciativa da Sociedade de Geografia de Lisboa, à qual então presidia, sabíamos que a estrutura do Império Euromundista da frente atlântica europeia, esperava já pela certidão de óbito na ONU. Nesta data, sobreviventes a essas iniciativas, existe a Academia Internacional da Cultura Portuguesa em atividade, e a União das Comunidades de Cultura Portuguesa suspensa pelo facto de, em moldes diferentes, o tema ter passado para a orbita governamental. O desfazer do Império Euromundista, que tinha sede em vários Estados da frente atlântica (Holanda, Bélgica, França, Inglaterra, Portugal), não omitiu a guerra, que, pelo que respeita a Portugal, não tinha sido necessária quando se desfez o breve Reino Transatlântico de Portugal, Brasil e Algarves, reinando D. João VI, e no rescaldo da Revolução Francesa e das guerras napoleónicas. Mas se o desfazer daquele breve Reino foi geralmente pacífico, também implicou a sobrevivência de um espírito de solidariedade das sociedades civis e dos governos, que no referido Congresso de 1966, na Ilha de Moçambique, permitiu a um delegado brasileiro proclamar que tinha sido dado um passo para a Pátria Maior, isto à sombra das bandeiras de Portugal e do Brasil, pela primeira vez erguidas a par como alicerce de um futuro. Essa Pátria Maior seria o que tenho chamado uma solidariedade de afetos, permanente e crescente à margem da evolução política, que, no virar de século, incluiu porém a chamada guerra colonial portuguesa. Todavia, este grave acidente não impediu o sonho da solidariedade de afetos, de que muitos foram apóstolos, ocorrendo-me lembrar Agostinho da Silva como voz sobrevivente em todas as circunstâncias, e ainda hoje ouvida. De facto, depois de o Presidente da República Portuguesa António José de Almeida, ter ido ao Brasil agradecer o facto de se ter proclamado independente, foi seguramente tal sentimento que fez com que, entre todos os países europeus do Império Euromundista da frente atlântica, Portugal fosse o único que viu configurar-se o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, e a Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa. Embora o facto da comunidade de afetos, sem esquecer os acidentes do trajeto colonial semeado de brutalidades por todos os colonizadores, seja de origem inevitavelmente portuguesa, com demonstração prévia na formação da nacionalidade obtida pela mistura de mais de uma dezena de etnias, é certo que nenhuma de ambas as instituições teve o seu arranque por mão portuguesa, mas antes por iniciativa do Brasil. E por isso não poderei deixar de lembrar sempre o nome do Embaixador Aparecido de Oliveira, que foi o grande realizador das instituições e, por muito que a ideia seja contrariada, o papel doutrinário de Gilberto Freyre, e o sonho de Agostinho da Silva de criar uma Biblioteca portuguesa em Brasília, que apoiasse eficazmente o plano universitário, e o projeto que não conseguiu levar a cabo de semear Centros de Estudo Portugueses em pontos cruciais da história portuguesa, designadamente Ceuta, Goa, Malaca, Japão, e assim por diante. Fica um primeiro apontamento: quer o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, quer a CPLP, foram ideias que nasceram em Portugal, mas foram realizadas pelo Brasil, não podendo esquecer-se a intervenção do Presidente Sarney. Parece-me todavia de acrescentar alguma meditação entre a natureza da ideia, e o mundo em que se desenvolveu. Quanto à natureza da ideia, num excelente estudo do Almirante Rebelo Duarte, foram lembradas as seguintes palavras de Domingos Simões Pereira, que foi Secretário da organização: “A CPLP é um pacto de amizade entre iguais. A sua atuação está a ganhar crescente visibilidade internacional e o seu reconhecimento tem-se verificado nas atividades desenvolvidas em inúmeras áreas sectoriais. As demonstrações de interesse de alguns países e instituições em integrarem a CPLP comprovam a vitalidade de uma organização que comemorou 15 anos de existência no passado 17 de Julho de 2015. É importante meditar em primeiro lugar sobre os fatores de solidariedade que basearam esta espécie de milagre: na desagregação do Império Euromundista da frente atlântica europeia que abrangia as Holanda, Bélgica, França, Inglaterra, Portugal, apenas este conseguiu organizações do tipo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, e a CPLP. Hoje, janelas de liberdade para Portugal

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