A opinião de ...

Josete Fernandes - a propósito da sua exposição de pintura em Bragança

Cedães, uma aldeia do concelho de Mirandela. Um pormenor: uma casa na Rua da Igreja, sobranceira à ribeira que corre em baixo. Passei lá há dias: o tempo tem sido rude e a ribeira vai seca! (o tempo há-de esturricar-nos a todos...). Fomos recebidos pela terceira vez, a minha mulher e eu, pelo casal Josete e Miguel. Bebido um copo de água fresca na varanda, descemos ao piso inferior, onde está instalado o atelier de Josete Fernandes. Naquela divisão da casa, respira-se a frescura do ambiente, misturada com as tonalidades frescas dos trabalhos da pintora. Uma mulher que aparenta, simultaneamente, fragilidade e força, simplicidade e ousadia – próprios de quem vive intensamente a arte que desenvolve. Josete Fernandes vai-nos exibindo parte da sua obra (uma outra parte está exposta no Centro Cultural Adriano Moreira, em Bragança). Mostra os diversos materiais que aplica, as técnicas que privilegia, e, sobretudo, os temas que vai valorizando. Conhecimento e emoção. Técnica e criatividade.
Ficámos particularmente sensibilizados pelo belíssimo tema “O Beijo” – traduzido em várias telas que nos transportam para diversas emoções que saltam para fora dos quadros, e que cada um pode interpretar de acordo com a sua sensibilidade. Descoberta contínua, emaravilhamento comovente, sensorialidade refrescante. Se fôssemos críticos de arte, seríamos convocados a apresentar uma descrição crítica, entendendo crítica, aqui, como uma construção subjetiva para a apreciação da arte, baseada em domínio técnico e conhecimento do contexto sociocultural no qual a artista está inserida. Não o sendo, fico-me pelas emoções simples de um observador que acha belo o que lhe parece belo, o que o fascina por ser fascinante. Não me interessa integrar a pintura de Josete Fernandes numa qualquer escola ou corrente: arte abstrata, arte conceitual, arte informal, arte de vanguarda…? Interessa-me a mensagem à qual aderimos segundo as nossas emoções. Nunca está explícita uma única mensagem; cada um de nós faz a sua leitura de acordo com o que o cérebro “vê”. Se acompanharmos Tito Pires, veremos na obra, já vasta de Josete Fernandes, o seguinte: «O ser humano [as figuras] surge(m), assim, através de cores vivas e emoções à flor da tela, apresentadas [especialmente] na pele de mulher ou criança, em manifestações surrealistas do seu consciente. As suas obras mostram-nos, assim, um inconformismo pertinente que quer tocar o interior de cada um, ensinando-nos que o verdadeiro prazer está na procura» …
Desconheço o nível de interesse (e compra) da arte de Josete Fernandes por terras do nosso País e no estrangeiro, onde tem exposto. Estamos numa época do imediatismo, do facilitismo, do consumismo, dos “selfies” – tudo isto desaparece no esconso da materialidade ou do digital. Mas a Arte, nas suas expressões mais belas, como a pintura, a arquitetura, a escultura, a dança, a música e a literatura são antigas como o ser humano, permanece durante séculos. Atrevo-me: a obra de Josete Fernandes vai permanecer. E perdoe-se-me: ao lado de Graça Morais, de Nadir Afonso e de outros pintores e escultores transmontanos já consagrados.

Edição
3901

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