A opinião de ...

Contrastes

1. Eu vi. Poisadas, milhares, milhões de flores em Green Park. Posso fazer uma ideia: imagino um milhão de pessoas que vão passando, cada uma trazendo um ramo de um quilograma. Quanto dá?…Ali ao lado, na Regente Street, um homem seminu (só com calças; recordo que onde vi mais home less – não é de pasmar! – foi em NY, sim, na cidade de extremos) aguarda que algumas moedas caiam no copinho de cartão. Por certo, poucas tocarão no fundo do copo, apesar do movimento de pessoas. Perto de Westminster Abbey, na Parliament Street, em local destinado a sessões de informação de desassossego e de revolta, duas cenas. Uma, relativa ao que se passa em Amhara, Etiópia – um verdadeiro genocídio, que algumas ONG’s (organizações não governamentais), o Human Rights Watch (Observatório dos Direitos Humanos) e a Amnistia Internacional acusam de limpeza étnica, provocando uma grave crise humanitária. Bem perto, no alto da sua estátua, Mahatma Ghandi observa. Outra, exibe fotografias de pessoas que mostram o seu descontentamento pela prisão, em Londres, do jornalista Julian Assange, porque, afirmam, é o fim do jornalismo independente. Em Piccadilly Circus, um enorme cartaz publicitário mostrou a figura de Elisabeth II, mas logo, dois dias depois da morte, lá estão os produtos que vendem.
2. Eu assisti online. Alaa Murabit, médica, nascida no Canadá, de origem libanesa, onde reside, e ali, com 21 anos, fundou a organização ‘The voice of Libyan Women’ (A voz das mulheres libanesas). Em 2018 foi considerada uma das mulheres mais influentes do Canadá. Refere, numa entrevista que deu ao Expresso, aquando da sua presença nas Conferências do Estoril (realizam-se no Estoril periodicamente, abertas a quem pretender assistir à distância), que algumas pessoas vivem em permanente situação de incerteza, provocada pela guerra – um constante desafio para as populações. Nas Conferências, as preocupações sobre as múltiplas crises e mudanças que o planeta atravessa, se busca o equilíbrio e a sua regeneração. A grave crise na manutenção de paz que atravessamos na Europa, está no topo da agenda global. 
A cerca de 4.100 Km do Estoril, no Leste da Ucrânia, lá está a guerra. Como está noutras partes do Planeta. Guerras: o poder da força, a força do poder. Paz: a força do diálogo, o diálogo bem mais difícil do que mandar bombas e homens para a frente. Avanço eu, avanças tu…Joguetes somos todos nós nas mãos dos poderosos. Dos senhores da guerra, como escrevi noutra crónica.
3. Eu li. “Quem é o maior líder da História?, alguém que exerceu poder e teve um impacto positivo na Humanidade?” Eis a pergunta que o BBC History Magazine lançou aos historiadores no início do ano 2020. Entre os nomeados, santos, papas, guerreiros e guerreiras, reis e rainhas, imperadores e imperatrizes – um surpreendeu. A lista foi posta à votação. Para o espanto de todos (?!), um nome surgiu: Amílcar Cabral. O mais discreto e o menos poderoso de todos, emergiu do tempo como o segundo maior líder da História.
Nada melhor para concluir esta crónica.

Edição
3903

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