A opinião de ...

O Interior a rezar

Tão aterradora e devastadora tem sido esta temporada estival de incêndios para os ecossistemas e, sobretudo, para a vida nos seus diferentes tipos e vertentes que, muitas vezes, à míngua de meios de combate, o que resta é rezar.
Deus, sensível e magnânimo, certamente, não deixará de fazer a sua parte. Contudo, sabemo-lo bem, o grande quinhão de responsabilidade é de outra ordem, mais terrena.
Assim o evidenciam tantos testemunhos pungentes, profundamente tocantes e que nos ficam gravados na memória, os quais deviam estar anexados ao dossier relacionado com qualquer ação a ser anunciada relativa à atração de pessoas para o Interior e, sobretudo, quando aqui se realizar novamente qualquer campanha política, de vãs promessas, para as eleições.
É muito triste uma pessoa trabalhar, trabalhar, trabalhar, os pais, os filhos, os netos, todos, e para quê? Para ficar sem nada!
Daqui pode ocorrer-nos mesmo perguntar que mal fez esta gente (fizemos) a quem nos tem (des)governado?
Partilho o cansaço de ouvir tantos diagnósticos repetidos ad nauseam, papagueados por tantos especialistas e outros nem tanto, assim como as bradadas estratégias, recursos, o que foi feito ou não para preparar e ou melhorar quer a prevenção quer o combate aos incêndios, as falhas, as responsabilidades e os presumíveis responsáveis.
Penso que o que importará mais, para além do que é possível fazer para que os incêndios não sejam tão aniquiladores (pois malgrado sempre os haverá, ainda para mais com as alterações climáticas que por estes dias têm tido as costas muito largas), é o que está a ser feito e o que virá a ser feito, pressuroso e inadiável, para conservar a natureza e o modo de vida da população do Interior.
Não se admite, por exemplo, que não sejam feitos aproveitamentos hidroagrícolas/barragens, construídas charcas, etc, sob pretextos de entidades defensoras, imagine-se, da “natureza”! Ainda no pretérito domingo, o helicóptero, na aldeia de Parada de Infanções, encontrou dificuldades substantivas para se abastecer de água para combater um incêndio que ali ocorreu.
É imperioso que as obras de enfeite sejam substituídas por replantação de árvores autóctones nas serras que já arderam.
Cada vez se gastam mais fortunas em meios aéreos, mas quanta verba do PRR está destinada a apoiar a limpeza (penso que não se vai lá com multas, pois se as pessoas não têm dinheiro para limpar muito menos o tem para pagar), a efetuar o emparcelamento do território e sobretudo a implementação de um sistema eficiente de vigilância?
Por este andar, os nossos governantes, quando aqui vierem, o que encontrarão será um punhado de resistentes envelhecidos em território pobre e deserto.

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2893

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