A opinião de ...

Os professores e as novas vinhas da ira

«As vinhas da Ira é um romance de John Steinbeck, que este escreveu em 1934 e que foi adaptado para filme, com o mesmo título (The Grappes of Wrath), por John Ford, em 1940. É uma das obras-primas da literatura mundial, indispensável na formação das pessoas, a ler em qualquer tempo mas, preferencialmente, entre os 16 e os 20 anos de idade. Faz parte do Plano Nacional de Leitura para os alunos do ensino secundário.
«As Vinhas da Ira» retrata-nos a desorganização provocada por uma crise económica de origem ecológica (seca), entre 1930 e 1939, no Texas e no Oklahoma, agravada pela Grande Depressão de 1929. Mais de meio milhão de pessoas ficam sem emprego e rumam à Califórnia, em busca de trabalho. A exploração dos pobres pelos ricos face ao excesso de oferta de trabalho, e as traições, as alianças, os amores, as fidelidades e os heroísmos entre os próprios explorados constituem a trama do livro e do filme.
Li o livro aos 16 anos e julguei, ao longo dos 62 anos de idade, que nunca mais iria assistir a semelhante tragédia. Porém, desde finais dos anos 70 do Século XX, o novo liberalismo económico e a irresponsabilidade dos governantes sucessivos, têm destruído a estrutura económica que dava guarida a todos os portugueses.
Para efeitos do nosso artigo, os professores são apenas um grupo profissional dos que estão sujeitos às novas vinhas da ira, dos tempos atuais. Podíamos estar a falar de quase todos os grupos profissionais mas o caso dos professores é o mais referido por ser o maior (150.000 profissionais no não superior mais 30.000 no superior).
Que se passou então com os professores para serem 250.000 candidatos e apenas 180.000 empregados, dos quais 15.000 a meio tempo ou nem isso? Passaram-se fatores ecológicos (desaparecimento dos alunos) e irresponsabilidade na planificação do número de professores por parte dos poderes responsáveis.
Se a isto acrescentarmos um modelo de colocação que, pelo seu centralismo, não será o melhor e que há ministros que, pelo seu desconhecimento do Ministério, querem mudar tudo e, depois, não arranjam pessoas à altura de resolver os problemas, ficaremos com uma situação explosiva e, provavelmente, incontrolável. Tal aconteceu a Maria de Lurdes Rodrigues e a Nuno Crato. É preciso conhecer os problemas, teóricos e práticos, antes de ser ministro.
Este desconhecimento tem sido nefasto para a educação e para os professores e só se resolve com uma escola séria de gestores para a educação. Não com uns cursositos que andam por aí, cheios de crítica do sistema nas de nada de resolução de problemas concretos.
Independentemente das reformas necessárias no vencimento do pessoal da administração pública, até agora, e desde 2006, só abrangendo os professores, tendo-lhes sido retirado um terço do seu vencimento, as vinhas da ira dos professores têm agora novos contornos graves, que são o Estado não querer assumir os seus erros de colocação. Como o vento, os professores voam hoje de poiso em poiso com um vencimento líquido de 750 euros mensais, em início de carreira.
Mau presságio também para os outros corpos profissionais.

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3497

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