A opinião de ...

O «Senhor Feliz» e o «Senhor Contente», depois do amor

A relação entre o Senhor Feliz e o Senhor Contente, vulgo Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, já teve melhores dias. Depois de seis anos em lua-de-mel, o período posterior ao dia 31 de Janeiro de 2022, dia das eleições legislativas, e, sobretudo, ao dia 30 de Março do mesmo ano, data da tomada de posse do XXIII Governo Constitucional, de maioria socialista, foi marcado pela ruptura diplomática da lua-de-mel, até 26 de Abril de 2023, e pela rutura tempestiva, a partir desta data.
Hoje, o Senhor Contente e o Senhor Feliz já não são mais, nem Contente nem Feliz. Cada um separou os trapinhos e foi à vida passando a ser, finalmente, o que se quer que sejam: Presidente da República e Primeiro-Ministro. Provavelmente, um e outro vão já tarde mas já foram, o primeiro, por despeito, para recuperação da honra perdida; o segundo, por rebeldia e necessidade de cortar o cordão umbilical para afirmação da sua autonomia.
A honra perdida de Marcelo perante o seu eleitorado natural exige um Presidente a fazer o jogo dos interesses dos prosélitos do PSD colocando a hipótese de dissolução da Assembleia da República. Mas como, se o Presidente do PSD afirma uma verdura tão tenra que até as ovelhas têm medo de a comer?
Bem precisaria o Primeiro-Ministro e o seu Governo de um momento de forte censura e agitação mas tanto a imaturidade do líder do PSD como a tartaruga das sondagens como ainda o bom momento da economia nacional recomendam o refrear dos ânimos em aventureirismos eleitoralistas e esperar pelas eleições europeias de Junho de 2024 para ver o que pensa o Povo. É que «medir» o pensar do Povo por sondagens encomendadas nunca deu bom resultado. O Povo nunca falou mal tanto em eleições como em referendos.
Por isso, vai ser interessante assistir a duas provas de criatividade: um Presidente a organizar um escorrega gigante para o Primeiro-Ministro deslizar e um Primeiro-Ministro tartamudo a deixar o Presidente enredar-se nas suas contradições de falar demais e agir de menos por falta de condições para tal.
E, entretanto, o Primeiro-Ministro vai criando as condições para vincular o seu eleitorado com apoios sociais e para vincular os interesses económicos à organização do PRR. O Primeiro-Ministro corre o risco de que o Presidente lhe estoure o Governo com a bomba atómica. O Presidente corre o risco de o Primeiro-Ministro o envergonhar com um resultado eleitoral que afirme a tontice da dissolução da Assembleia da República. Vai ser interessante seguir este jogo de xadrez e ver as conclusões do Conselho de Estado próximo.
Porque o que se passa à nossa volta exige um Governo forte que ponha na ordem os professores e o Ministro da Educação através da requisição civil porque prejudicar os alunos, inocentes, e as famílias, vítimas, nas avaliações e exames, é inadmissível.
Do mesmo modo, assistir ao regabofe da Banca a ditar o abaixamento dos juros dos certificados de aforro em troca do abaixamento da taxa de juro dos depósitos a prazo é não só vergonhoso como próprio de um país de corruptos, usurários e exploradores sem regras.
Igualmente, a incapacidade do Governo em regular o mercado da habitação é chocante. Bem como o desnorte da CP. O rol das incapacidades do Governo e da nossa democracia é enorme e desmente todos os sonhos de uma sociedade justa, solidária e de dignidade humana.

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