A opinião de ...

O estado do mundo: o triunfo do absurdo?

O nosso dever é transmitir esperança mas não temos muito com quê a não ser com a fé num futuro melhor. Tanto em Portugal como no resto da Europa como ainda nos EUA, vejo demasiado desconcerto.
Em Portugal, o Governo parece já ter metido férias. Os problemas agravam-se, uns, como na educação e na saúde, e embrulham-se, outros, como na economia, no planeamento e na distribuição de competências entre administrações, vulgo descentralização. É inadmissível ter deixado chegar as questões da descentralização ao estado em que elas estão.
Pelo menos nós, alertámos para as dificuldades e impossibilidades de cumprir universalmente um pacote de competências como o que foi atribuído às autarquias em 2020. Não apenas por falta de dinheiro mas também por falta de estruturas, de tecnologia e de pessoal qualificado. Além disso, não se decreta competências a cumprir universalmente independentemente das condições existentes em cada autarquia.
Por aqui se verá a salgalhada que será discutir a regionalização. Não sabem o que isso é nem o que significa nem o que implica. Provavelmente, querem-na para os «jobs for the boys» porque, para o resto, parecem não ter noção. Não têm noção, por exemplo, de que obrigar um transmontano a associar-se com um portuense, que só quer aquele para lhe sugar os fundos comunitários, atribuídos face às ratios de desenvolvimento, é lançar a guerra no país. Não têm noção de que regionalizar implica um estudo sério da distribuição de competências entre as pessoas colectivas envolvidas: Estado, regiões, autarquias municipais e autarquias de freguesia. De que as regiões não têm de ter todas as mesmas competências. E de que o país não tem suporte para cinco regiões.
Não é só em Portugal que as coisas correm mal. O mestre da realpolitik, Vladimir Putin, escolheu o momento certo para invadir a Ucrânia. Aproveitou o desconcerto do mundo. Apesar da retórica do apoio à Ucrânia, o apoio dos EUA e da NATO a este país tem sido limitado e insuficiente e a Rússia lá vai conseguindo tudo o que quer. De uma forma bárbara e selvagem mas lá vai conseguindo.
E, quando chegar a hora da negociação, já o leste da Ucrânia estará ocupado e o Mar Negro transformado em «piscina» do grande Czar. Depois, a Rússia ficará para sempre. É o preço da muita retórica e da pouca acção do Ocidente. Será uma derrota vergonhosa para a NATO, para os EUA e para a Europa com a agravante de proporcionar um guerra no Pacífico por causa de Taiwan, uma questão menor que não vale um guerra.
A Rússia desencadeou uma guerra medieval, baseada na posse de território e de controlo de fronteiras. Uma guerra selvagem, de barbárie. Nem sequer é uma guerra segundo a lei do mais forte pela qual o mais forte tem o direito de dominar o mais fraco, desde que lhe poupe a vida. Não há na História da Humanidade uma guerra assim, movida apenas pela vontade de usurpação e pelo instinto de matar.
Ao agir assim, ao submeter-se perante a Rússia, o Ocidente demonstrou que não é confiável. Estamos sós, no triunfo do absurdo. Deus nos ajude.

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