A opinião de ...

Autárquicas

Eleger os nossos representantes mais chegados, no governo da polis onde vivemos é tão difícil como acertarmos na escolha do melão (de casca a recordar um carvalho) a fim de apimentar (com pimenta de qualidade se servem no início ou no fim da refeição) festins de eclatante convivialidade a exaltar amizades e alegrar corações. A escolha serena, reflectida, estudada ao pormenor ainda fica mais difícil (uma das causas da abstenção galopante) daí não constituir motivo de admiração o facto de inúmeros autarcas se eternizar nos cargos. A causa é cristalina que resumo no anexim: mal por mal Marquês de Pombal! Já conhecemos as qualidades da pessoa, já sabemos, até onde vai a sua clarividência, já lhe adivinhamos as manhas, os pecadilhos de maior ou menor monta.
O comodismo, a fidelidade partidária, a notória ausência de qualidades fazem o resto da decisão, caso estejam em desacordo os meus estimados leitores façam o favor de ler a obra-prima por concluir de Robert Musil, cujo título é O Homem sem qualidades.
Os jornais Nordestinos vão dando conta do processo eleitoral no Distrito, o tom e o som de grosas de opiniões recordam as emitidas nos finais do século XIX alvores do século XX, incluindo o desbragado período da 1ª República, pois no decurso do Estado Novo praticava-se o chiste revisteiro de a Ditadura ser expressa em duas palavras – come e cala – que o salazarista vinhaense Assis Gonçalves ao tempo governador civil de Vila Real não achou piada à rábula e, porque as cardadas (botas) mandavam, sendo ele, Tenente dado ao autoritarismo e responsável política proibiu a continuidade da representação. Este membro influente do grupo dos Tenentes foi secretário do encriptado Botas de Santa Comba bem merece sério estudo, nada de jocosos tapetes de palavras pois a sua influência está plasmada em muita legislação do Estado Novo.
Ora, tudo quanto tenho lido acerca do próximo prélio eleitoral ressuma a: visto, lido e respigado, prevalecendo o mimetismo quer na linguagem descuidada a propostas de acção rançosas cobertas de espuma de barbear levando-me a relembrar o saudoso senhor César Barata a repetir sem resultado a recomendação de cumprir o preceito de praticar o horário de trabalho o exímio escanhoador Carlos Gardel.
Assim, não vislumbro hipótese de Jorge Gomes vencer o combate até porque acusar Hernâni Dias de açambarcar (sic) nomes é elogiar a sua porfia de caçador qual Sr. Manuel Nogueiro espingarda de notável pontaria.
Lá para os lados da Quinta da Batoca, no saco os gatos e a gata adoram esfandegar a manta da democracia e por Macedo de Cavaleiros o ovo da ambição tolda as mentes, enquanto em Torre de Moncorvo o Senhor Germano ajusta Tus em carambola de quem bebeu uma grande dose de ilusão. Tenho curiosidade em aferir o resultado da querida Júlia o mesmo relativamente ao Sr. Almendra.
A quatro centenas de quilómetros do epicentro, continuando a usar máscara e clausura admiro todos os concorrentes que destilam sangue, suor e lágrimas. O poder é tão sedutor!

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