A opinião de ...

D. João IV, o Restaurador (1604-1656)!

Aclamado rei a 15 de dezembro de 1640, foi o fiel depositário da Restauração da Dinastia Portuguesa que pôs fim a 60 anos de realeza hispânica em Portugal. Natural de Vila Viçosa e casado com a espanhola D. Luísa Francisca de Gusmão, era 8.º duque de Bragança, 5.º duque de Guimarães e 3.º duque de Barcelos.
Relativamente ao seu envolvimento no processo, extrapolações preconceituosas dos republicanos de novecentos aventaram as suas renitências iniciais e temeridade no assumir das responsabilidades, que teriam levado os conjurados a pensar oferecer a coroa ao filho, D. Teodósio, ou ao irmão, D. Duarte. Pensar-se que teria sido D. Luísa de Gusmão a empurrá-lo para o trono ou que necessitou que fosse Deus a conduzi-lo a Lisboa para assumir o seu desígnio é ainda mais desprovido de sentido. Convém perceber que «a Casa de Bragança quase nunca tomou posições políticas aberta e publicamente». No entanto, nunca deixou de perceber a conjuntura peninsular, medindo o pulsar dos constrangimentos populares, ouvindo o descontentamento nobiliárquico ou dando esperança à pregação dos Jesuítas. Alma do movimento, monitorizou o evoluir dos acontecimentos a partir de Vila Viçosa para, no momento certo, tomar conta dos destinos políticos do Reino.
A revolta popular de Évora contra os impostos, ocorrida em 1637 e que alastrou a outros lugares do Alentejo e do Algarve, criou um clima de exaltação. Os hispânicos esmagaram com ferocidade as revoltas, mas em Madrid prestou-se mais atenção à conduta do «Bragança». A partir de 1638, nobres e fidalgos despeitados com as políticas de Madrid equacionavam o desencadeamento de um golpe de Estado contra a Espanha, sentindo o apoio da França do cardeal Richelieu. Para o efeito, iniciaram diligências junto de D. João, no sentido de perceberem a sua anuência e disponibilidade para ocupar o trono. O duque manteve-se cauteloso. Sabia que da sua popularidade e da expectativa relativamente à sua pessoa, mas não desconhecia que era vigiado pelos agentes da duquesa Margarida de Mântua, representante em Lisboa do poder de Madrid. Um passo em falso podia significar a dissolução da Casa de Bragança e o fim das aspirações da emancipação portuguesa. Em meados de 1639, D. João foi nomeado governador-geral das armas de Portugal, fórmula encontrada por Olivares, valido (1.º ministro) de Filipe IV, para controlar a Casa de Bragança e testar a lealdade do duque. Contudo, D. João não se deixou cair na órbita da influência de Filipe IV. A situação precipitou-se a partir de 6 de Junho de 1640, quando a Catalunha se revoltou contra Castela e assumiu a independência. A Insurreição, que impeliu Madrid a recrutar soldados e nobres em Portugal para combater na frente catalã, desviou a atenção do problema português. Entretanto, D. João e outros nobres foram chamados a Madrid para um preito de lealdade, que foi protelando com uma série de desculpas, jamais se deslocando do palácio de Vila Viçosa ao do Escorial.
Enquanto em Madrid se desconfiava que algo se preparava em Lisboa, a alta nobreza, representada por D. Miguel de Almeida, conde de Abrantes, e D. Antão de Almada, conde de Avranches, e a fidalguia, com João Pinto Ribeiro, emissário do duque, à cabeça, aceleraram os preparativos do golpe. Entre reuniões e encontros furtivos ocorridos em Lisboa (Palácio de Antão de Almada, Igreja de São Domingos, Xabregas, Santos), a decisão foi deliberada em 12 de outubro de 1640. Em 21 de novembro, D. João deu o seu assentimento e, quatro dias depois, teve lugar a reunião decisiva.
Na manhã de Sábado, 1 de dezembro de 1640, um conjunto de nobres, fidalgos e os ajudantes das respetivas casas (cerca de 200 pessoas) acometeu o Paço da Ribeira e anulou a tutela filipina em Portugal. Seguir-se-ia a guerra de quase três décadas entre os dois Estados vizinhos, durante a qual Portugal escreveu uma das mais brilhantes páginas da sua História Política, Militar e Social.

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