A opinião de ...

A bem da nação

Na última visita à Junqueira, a minha filha Inês encontrou, entre outras “relíquias” familiares, uma carta da minha mãe, quando era Regente Escolar, dirigindo-se a um superior hierárquico, terminando com o jargão imposto por Salazar a todos os servidores públicos: “A Bem da Nação”. A seguir ao 25 de abril, esta formulação era usada para caracterizar ações, intenções e propósitos ligados ao antigo regime, porém, o conceito, em si, continuou a ser usado, apropriadamente ou nem por isso, com insistência crescente, por quantos (e foram muitos) se candidataram a lugares diretivos, executivos ou legislativos: movia-os a vontade de servir bem a nação. Não deve ser questionável a genuína intenção de serviço público de quantos, ao mesmo tempo e de forma perfeitamente legítima, veem nesse sentido de missão, uma forma de promoção pessoal de carreira profissional e de melhoria da sua condição de vida… desde que seja estabelecido um equilíbrio razoável entre estes dois desígnios, sobretudo nos limites estabelecidos para o segundo.
O problema surge quando as ambições pessoais não estão alinhadas com o intuito genuíno de promover a dedicação à comunidade e a prossecução das suas necessidades e justos anseios, e o que é que, nestes casos, alguns estão dispostos a fazer para atingirem as suas ambições pessoais sob a máscara do empenho na causa pública.
Comecei a escrever este texto baseado no caso que estava a marcar a semana, em que Passos Coelho, alavancado pelo feito de ter resgatado o país à ditadura da troica, depois de ter sido apeado de S. Bento, apesar de ter ganho as últimas eleições a que concorreu, entende ter chegado a vez de se “transferir” para Belém. Nada de mais. Não fosse ter-se dado o caso de, sentindo-se entalado entre comentadores dominicais (correligionário e antigo aliado) e o almirante das vacinas, ter entendido que o desiderato justificava “vender a alma ao diabo” para ser indicado, como candidato, único e sem concorrência, pelas forças mais retrógradas do nosso leque político-partidário. Quando estava a desenvolver o tema, subitamente, a atualidade nacional foi abalada por mais um caso de nítida distorção e enviesamento do interesse nacional a propósito do incipiente “choque fiscal” do recém-empossado Governo da Nação. Fica difícil escolher o que é mais confrangedor, se é ver o ministro das finanças a ter de admitir que 88% da “sua” poupança em IRS já tinha sido introduzida pela mão do partido líder da oposição, se assistir à “revolta” do inefável Hugo Soares, chocado com a má-fé da oposição… por ter desmascarado o embuste em que o governo, se não o provocou de propósito, garantidamente nada fez para, atempadamente, o esclarecer. Mas, o maior desplante vem, vejam só, de Paulo Rangel (logo ele) garantindo que o interesse público passava pela resolução dos problemas e não de polémicas! O mesmo ministro que, dias antes, pouco tempo depois de ter tomado posse e numa pasta com pouco peso de económico-financeiro, já veio avisar que os dossiers estão a mostrar uma situação muito pior que a esperada, revelando problemas grandes e pesados… num claro remake, requentado e já visto, do discurso da tanga de Durão Barroso. Tudo isto quando, obviamente, meses antes, o bem da nação passava pelo ataque sem quartel às políticas governativas, à “incipiente e escassa” redução da tributação fiscal em curso e, obviamente, pelo desmascarar de todos os casos e casinhos que a “trapalhona” liderança de António Costa estava a promover na chefia dos destinos nacionais.
Ninguém pode ter dúvidas que com Rangel e Montenegro aos comandos, a direção do nosso futuro mudou radicalmente. Exclusivamente “para o nosso bem”, obviamente!

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