A opinião de ...

PSP - Muito mais do que uma reivindicação salarial (2)

Volto de novo à crise nas forças de segurança, hoje com especial enfoque na Polícia de Segurança Pública a qual, pela enormidade e complexidade das missões que lhe estão atribuídas e pela proximidade que mantém com a generalidade dos cidadãos, é a face mais visível da autoridade dum país, um alvo sobremaneira apetecível e fácil para criticar, descredibilizar e desprestigiar, fatores que, juntamente com o alheamento total das autoridades que a tutelam, são os grandes responsáveis pela gravíssima crise em que se encontra mergulhada.
Perante um problema desta grandeza, é estranho constatar que foi preciso que não se realizasse um jogo de futebol para que, como que vindo do nada, aparecesse meio mundo a classificar os agentes como insubordinados, insurretos e indisciplinados, a exigir que sobre a sua conduta e para os meter na ordem, sejam elaborados “rigorosos inquéritos”, feitas “averiguações céleres”, etc., etc., como se os grandes problemas do país se resumissem à impossibilidade de realização de um jogo de futebol por falta de policiamento fosse um crime de lesa pátria, situação que facilmente seria ultrapassada, se os responsáveis pela segurança do país, estivessem atentos e soubessem ler os alertas e as mensagens de descontentamento que, das mais variadas maneiras, lhes são enviadas pelas forças de segurança sob a seu comando.
Foi dentro desta ordem de ideias que, nas últimas semanas, para me inteirar da situação da PSP, conversei com dezenas de agentes sobre as motivações subjacentes às suas ações reivindicativas, ressaltando de todas as respostas colhidas, de que a seguir transcrevo uma amostra, um indisfarçável e preocupante sentimento de frustração, desmotivação, cansaço, mal estar e até de revolta, a merecer a melhor atenção:
- O governo não diz nada e não faz nada para resolver esta situação. Depois de mais de um mês de manifestações, dele, só um silêncio ensurdecedor;
-Estamos fartos de ser enxovalhados, desrespeitados e desconsiderados;
- O governo devia ter vergonha da forma injusta como recentementenos discriminou;
-A primeira coisa que deveríamos questionar é o porquê de existirem tantos a fazer a mesma coisa;
- Por alguma razão, antigamente, nos concursos para a PSP os candidatos eram sempre à volta de 10.000 e hoje estão reduzidos a cerca de 2.000;
- A frota automóvel da PSP há muito que não é renovada está reduzida a um amontoado de sucata inoperacional sem condições mínimas de segurança; -As instalações de muitas esquadras são uma vergonha e não têm as mínimas condições de habitabilidade, privacidade, conforto e segurança;
- Com uma média de idade de quase 50 anos, o efetivo da PSP foi reduzido de 26.000 para 20.000 elementos, está desmotivado, velho, cansado e sem capacidade de resposta em tempo útil, para a quantidade astronómica de problemas que estão sob a sua alçada, que tanto podem resumir-se a um arrufo de namorados, desentendimento entre vizinhos, como aos mais complexos e violentos crimes de banditismo, de furto, pirataria informática, negócios de droga e tráfico de pessoas em cuja luta, em manifesta desigualdade de meios, não raro arriscam a própria vida.
É esta a realidade atual, da situação das forças de segurança de Portugal.

Edição
3972

Assinaturas MDB