A opinião de ...

Prudência e caldos de galinha não fazem mal a ninguém

Nesta semana de abril em que tomou posse o governo minoritário da Aliança Democrática, saído das recentes eleições legislativas, nas quais o povo, livre e democraticamente, expressou a sua vontade de mudança, porque as coisas, nas atuais circunstâncias e num país como o nosso, não estão para brincadeiras, espera-se e exige-se de todos, oposições, governantes e governados, a lucidez necessária para fazer a análise da situação real do país, evitando assim que ele entre por caminhos sem retorno, caia em poços sem fundo, e se torne vítima fácil de todo o género de demagogias e aventureirismos, dos quais, sabendo-se apenas quando, como, onde e porque aparecem, depois de se instalarem, ninguém poderá garantir como e quando irão desaparecer.
Curiosamente, (ou talvez não!), os mesmos grupos, grupinhos e grupelhos de sempre, como se a vontade do povo só fosse para cumprir quando vai ao encontro dos seus interesses pessoais, de grupo ou de classe, em vez de fazerem a sua autocrítica, numa atitude mesquinha e narcisista, imprópria de pessoas que se candidatam a representantes do povo, denotando um sectarismo irracional e desajustado duma democracia moderna, optaram pela solução fácil de desvalorizar o resultado das eleições e por em causa a legitimidade dos eleitos.
Como se isto não bastasse, para cúmulo do ridículo, tiveram o desplante de votar contra um governo inexistente, reprovar um orçamento e um programa de governo que ninguém conhece ainda, como se a vontade do povo, repito, só valesse quando fala e promete a todos este mudo e o outro, e o país ainda vivesse nos tempos lendários das minas de ouro do Brasil, nos quais, para haver dinheiro à tripa forra, bastava abanar a árvore das patacas.
Num contexto difícil e extremamente imprevisível como este que o mundo está a viver, num país de economia aberta como a nossa, sem capacidade de competir com as flutuações do mercado global em que está inserida, com uma dívida pública muito asfixiante e uma quantidade astronómica de problemas, de toda a ordem, que se foram agravando no decurso das últimas décadas, que muito para além de se limitarem aos estratos da população com mais visibilidade e maior capacidade reivindicativa como professores, médicos, forças de segurança, forças militares, agentes da justiça e tantos outros, de uma maneira ou doutra, afetam a grande maioria da população, é crime sem perdão continuar a enganar as pessoas com a ideia peregrina de que o saldo positivo das contas do estado de 2023, que ninguém garante que se repita em 2024, vai ser suficiente para transformar Portugal no país das maravilhas.
Convencido de que a realidade atual não se compadece com fantasias e sonhos duma noite mal dormida, para evitar futuras desilusões, termino como comecei, relembrando que “prudência e caldos de galinha não fazem mal a ninguém”.

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