A opinião de ...

Votar o interior ao esquecimento

Os agricultores portugueses pediram ao Presidente da República que incluisse o “mundo rural” entre os temas que vão a debate do estado da nação.
Segundo o jornal Público, os agricultores defendem que é preciso rever o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum, acabar com a desarticulação existente no Ministério da Agricultura e definir medidas concretas de combate à falta de água.
“Ignorar esta discussão é ignorar 90% do território nacional”, defendeu a CAP, em comunicado. A confederação enviou o mesmo apelo à Presidência da República, para que o tema mereça atenção também no Conselho de Estado desta sexta-feira.
Ora, por cá, aquilo a que se assiste é um crescente abandono do território. Com a época de incêndios a dar mostras de começar, o despovoamento que afeta o mundo rural (a grande maioria do território do nosso país) contribui ainda mais para o risco de desertificação.
Sem gente que trate e cultive a terra, o mato floresce e torna-se pasto para as chamas, que deixam atrás de si o deserto.
O que ainda vai valendo a regiões como o Nordeste Transmontano é a resiliência de associações, grupos de cidadãos, gente da sociedade civil que se mobiliza para não deixar cair esta região no esquecimento.
É o caso da Associação da Lombada, em Bragança, que promove há 23 anos o festival mais duradouro do distrito. Um festival de cultura e tradições, como a de tratar dos campos, semear, segar e malhar o cereal.
Tradições que, uma geração volvida, já pouco dizem aos mais novos.
Mas é preciso que a memória se não perca sob pena de perdermos todos, os que cá moram e os restantes portugueses, que veem parte do seu país entrgue à sua sorte.
Olhar para aspetos que podem parecer estranhos aos olhos de um lisboeta é, simplesmente, não deixar o resto do país ser votado ao abandono.
Afinal, somos todos filhos do mesmo Deus.
Participar nestas recriações e festivais de tradições, seja no verão, seja no inverno, mais não é do que ajudar a perpetuar a memória, do que já fomos e do que queremos ser.
Perpetuar a memória é, afinal, não sermos esquecidos. Nem agora, nem depois.

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