A opinião de ...

A justiça do mercado

Há precisamente 13 anos, Portugal começava a acordar para um problema que viria a marcar a economia portuguesa na década seguinte: o colapso do Banco Espírito Santo (BES).
A implosão de um dos bancos históricos portugueses viria a concretizar-se um ano depois, em agosto de 2014.
O que é certo é que os contribuintes portugueses foram chamados a tapar um buraco de milhares de milhões de euros. O mesmo acontecera, em 2008, com o BPN e viria a acontecer mais tarde com o Banif.
Ou seja, quando houve um cenário de crise e foi necessário dar a mão à banca, foram os portugueses chamados ao sacrifício. Os milhares de milhões injetados nos bancos vieram dos impostos, que seriam utilizados para salários da função pública, para a saúde, escolas, vias de comunicação, etc...
Quantas linhas de alta velocidade era possível construir com o dinheiro que foi desviado para salvar os bancos? Quantos médicos especialistas era possível contratar para os hospitais?
Uma década depois, a crise mudou de lado. A subida das taxas de juro dos empréstimos deixou muitas famílias com a corda na garganta. Enquanto isso, os bancos têm registado lucros extraordinários. Não só em Portugal como no resto da Europa. De tal forma que há países a pensar tomar medidas. Desde logo porque se as prestações dos créditos sobem rapidamente, a remuneração paga pelos bancos aos depósitos a prazo demora muito mais tempo a subir. O diferencial entre o valor pago pelos depósitos e os juros cobrados pelos empréstimos muito têm contribuído para a subida dos lucros.
Em comunicado, o regulador do setor financeiro do Reino Unido disse que quando “muitas pessoas sentem o aperto das taxas de juros e do crescimento dos preços é mais importante do que nunca que sejam oferecidas taxas de poupança justas e competitivas”.
O regulador do Reino Unido deu o fim de agosto como prazo para os bancos que oferecem juros mais baixos justificarem como é que tal é “um valor justo” para os clientes. Disse ainda que irá “tomar medidas robustas até o final de 2023 contra aquelas que não puderem demonstrar o valor justo”.
Por cá, ainda não se vislumbra qualquer tipo de medida para proteger as famílias portuguesas da ganância dos bancos.
Há um ano, o Papa Francisco alertava para “a ganância”, que via como “uma doença perigosa também para a sociedade”. “Por causa dela chegamos hoje a outros paradoxos, a uma injustiça como nunca na história, onde poucos têm muito e muitos têm pouco ou nada”.
Medidas como o crédito jovem bonificado ajudariam os que entraram recentemente no mercado de trabalho a encontrarem casa condigna, como aconteceu até ao início deste milénio. 
Há tanto por onde fazer e ajudar que pecado é não fazer nada.

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