Nordeste Transmontano

Falta de médicos obriga ULS a mandar grávidas para Vila Real um dia por semana

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2022-01-20 10:51

A falta de médicos na especialidade de Obstetrícia e Ginecologia está a obrigar a Unidade Local de Saúde do Nordeste a enviar grávidas para o hospital de Vila Real pelo menos um dia por semana desde o final de 2021.

Para poder funcionar, a maternidade de Bragança, a única que permanece aberta no distrito depois de ter sido encerrada a de Mirandela em 2006, precisa de dois médicos em permanência mas a saída de um clínico, de 82 anos, no final do ano passado, por motivos de saúde, deixou a maternidade de Bragança sem capacidade de proceder a intervenções cirúrgicas (partos naturais, cesarianas e até Interrupções Voluntárias da Gravidez) pelo menos num dia por semana (tem acontecido, por norma, às quartas-feiras), pois sobram apenas três clínicos, que vão rodando entre si.
 

Os fins de semana estão assegurados com o recurso a quatro médicos tarefeiros.

Desde a última semana de dezembro, já foram encaminhadas para Vila Real, a mais de 120 quilómetros de Bragança, pelo menos três grávidas, confirmou o Mensageiro junto dos bombeiros, responsáveis pelo transporte dos doentes.

O Mensageiro apurou, também, que foram abertas vagas para várias especialidades, incluindo esta. Dois médicos manifestaram interesse em ficar a trabalhar em Bragança mas a autorização do Ministério da Saúde (e das Finanças) para a sua contratação nunca chegou.

Desta forma, a maternidade de Bragança ficou numa situação delicada e com constrangimentos no seu funcionamento.

Esta é uma especialidade em que se sente mais a falta de médicos em todo o país, começando a surgir propostas por parte de unidades hospitalares do litoral com valores acima dos praticados na ULS Nordeste, o que pode levar, num futuro não muito longínquo, a que se torna mais difícil recrutar médicos tarefeiros para assegurar os fins de semana.

Para já, os partos programados estão a ser marcados para os dias em que o serviço tem capacidade de funcionamento mas nas situações em que tal não é possível, a transferência das grávidas para Vila Real tem sido a solução.

Perderam-se quase 40 por cento dos nascimentos numa década

A este problema associa-se o decréscimo de nascimentos, que baixaram 37 por cento na última década.
Em 2011 nasceram no distrito de Bragança 607 crianças. No ano passado (2021), foram apenas 385, quando em 2020 tinham sido 437, o que representa uma quebra de 13 por cento em apenas um ano.

Estes são os números de crianças efetivamente nascidas no hospital de Bragança.
No entanto, os testes do pezinho efetuados mostram já que algumas crianças do distrito estão a nascer fora da região.
Segundo os dados do Ministério da Saúde, em 2020 foram realizados 596 testes do pezinho (contra 437 partos registados na ULS, sendo o único distrito abaixo dos 600).

Em 2021, os dados divugados ontem pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge mostram que houve 513 testes realizados (os testes do pezinho servem para fazer a despistagem de diversas doenças), sendo que é o distrito com menos testes realizados. Portugal registou, pela primeira vez, menos de 80 mil nascimentos.

ULS admite constrangimentos mas garante que maternidade fica

Já em 2020, vários profissionais de saúde ouvidos pelo Mensageiro são unânimes: “esta diferença diz respeito ao número de crianças que vão nascer em Vila Real ou em maternidades no litoral, sobretudo no Porto”. Muitos desses casos dizem respeito a residentes na Terra Quente, em virtude do encerramento da maternidade de Mirandela, há cerca de dez anos.

Depois do parto, os pais regressam a casa com os filhos, efetuando no Nordeste Transmontano o teste do pezinho, pois existe um prazo de cinco dias para ser feito.

Ou seja, há pelo menos 128 crianças que terão nascido fora do distrito em 2021. Em 2011, eram 98. Portanto, tem vindo a aumentar o número de grávidas que vão ter os seus filhos em maternidades de fora do distrito.

Questionada pelo Mensageiro de Bragança, a Unidade Local de Saúde do Nordeste, que congrega 14 centros de saúde e três hospitais, incluindo a única maternidade, localizada em Bragança, garante que a continuidade da maternidade não depende do número de partos e explica que "tem vindo a assegurar diariamente resposta na área da Ginecologia e Obstetrícia com equipas médicas que garantem assistência nesta especialidade no estrito cumprimento dos protocolos clínicos em vigor, assegurando cuidados de saúde de qualidade e em segurança à população".

 

"Neste sentido, está e continuará a ser garantido o funcionamento da Maternidade da ULS do Nordeste, dando assim resposta às necessidades da população, que se distribui por uma área superior a 6.600 quilómetros quadrados, numa ótica de proximidade e complementaridade, pelo que a continuidade deste Serviço não está dependente do número de partos realizados. É, aliás, prioridade do Conselho de Administração da ULS do Nordeste, em articulação com o Ministério da Saúde, reforçar as equipas de médicos especialistas deste e de outros Serviços de Saúde no distrito de Bragança, salvaguardando as condições essenciais para a prestação dos melhores cuidados de saúde em consonância com os valores do Serviço Nacional de Saúde", lê-se na resposta enviada ao Mensageiro.

A ULS admite, no entanto, que "na sequência da saída, por doença, de um médico desta especialidade, que trabalhava em permanência no Serviço de Ginecologia e Obstetrícia da ULS do Nordeste, verificaram-se constrangimentos pontuais na constituição da equipa médica de urgência". "Ainda assim, a atividade assistencial urgente é sempre assegurada por um especialista em Ginecologia e Obstetrícia. De realçar ainda que a atividade programada, nomeadamente primeiras consultas e subsequentes, cirurgia programada e internamento do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia, está a ser assegurada normalmente. A ULS do Nordeste tem vindo a desenvolver todos os esforços no sentido de reforçar o quadro de médicos especialistas em Ginecologia e Obstetrícia e continua empenhada em atrair novos clínicos para a instituição. Neste sentido, são abertas, todos os anos, vagas nesta especialidade para a ULS do Nordeste, através dos vários concursos do Ministério da Saúde, no sentido de reforçar os quadros médicos.

Por explicar fica, no entanto, o que aconteceu nos referidos concursos e porque é que os médicos que pretendiam ficar em Bragança não foram contratados
O Mensageiro questionou, ainda, o Ministério da Saúde sobre esta matéria mas, até ao fecho desta edição, não obteve resposta.

 

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