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Igreja de Santo António, Montesinho. Iluminado por Deus!

Montesinho, aldeia do xisto e do granito, a dar nome ao Parque Natural do Nordeste Transmontano, é uma das mais icónicas de Portugal. Lugar privilegiado para percursos pedestres e amantes da natureza. Situada num vale e percorrida pela Ribeira de Vilar, a mais de 1.000 metros de altitude, dista 2km da fronteira com Espanha e 23 km de Bragança, na direção Nor-noroeste. Fez parte do extinto complexo mineiro mais produtivo de Estanho em Portugal e tem nas imediações a Barragem de Serra Serrada. Juntamente com a aldeia de Portelo, pertence à freguesia de França. Em 1232, o Arcebispo de Braga, D. Silvestre Godinho, concedeu ao abade Pedro do Mosteiro cisterciense de Santa Maria de Moreruela de Leão autorização para a edificação de uma igreja em Montesinho e a constituição de Padroado, mediante a quarta parte dos dízimos e primícias angariados. Concessão e usufrutos caducados no final do século XIV, durante o reinado de D. João I.
A Igreja data do século XVI, erguida na extremidade sul do povoado, com o Altar-mor consagrado à Santa Cruz, e dois laterais, insertos em arcossólios, dedicados a Nossa Senhora do Rosário e a Santo António. Juntamente com a Igreja do Portelo, estava anexada à reitoria de Nossa Senhora da Assunção de Carragosa. Atualmente, conhecida como Igreja de Santo António, a denominação dos altares mantém-se. Em 1735, foi erigido o púlpito a expensas dos residentes e, posteriormente, os altares da nave foram refeitos em estilo rocaille e passaram a colaterais, encostados às paredes do arco triunfal. Altura da existência da Confraria do Santíssimo Sacramento (1785-1802).
O edifício, de registo Maneirista e do Barroco, é à base de granito, em silhas e em assimetria, a cobertura em xisto, incluindo os alpendres dos portais, os pináculos são em forma garrafal e o campanário, a truncar o frontispício, tem dupla ventana, em arco de volta perfeita, ladeado por volutas em que se apoia o remate curvo. O acesso é feito por escadas adossadas no alçado esquerdo. O interior tem piso de soalho e teto em forma de berço na nave e em pedra no presbitério, que apresenta cobertura abobadada. As paredes são rebocadas e pintadas de branco. Contém coro-alto balaustrado, com acesso pelo lado da epístola e, no subcoro, pia de água benta, com carranca na face, e confessionário de madeira. No lado do evangelho, o batistério, compartimentado, tem porta em balaústres, encimada por frontão volutado, coroado por Cruz. O púlpito, em granito de bacia quadrangular e guarda plena, assenta sobre mísula decorada por motivos fitomórficos. Patenteia dois confessionários embutidos, confrontantes, próximos do arco triunfal.
O arco triunfal de volta perfeita, moldurado no intradorso, assenta em pilastras de dupla imposta, almofadadas no fuste. Nas paredes encostam os altares colaterais, com reentrância em arcossólios que os acolheu anteriormente. Policromados, mesas paralelepipédicas, triplo eixo e colunas de capitéis de aproximação coríntia. O de Nossa Senhora do Rosário, com colunas lisas, tem imagens laterais de Santo António e de Nossa Senhora de Fátima. O dedicado ao Orago Santo António, de colunas molduradas, apresenta S. Sebastião e o Sagrado Coração de Jesus. O Altar-mor, sob supedâneo, de presbitério mais largo e alto que a nave, é do Barroco tardio (1764). Restaurado recentemente, em marmoreado fingido e decoração dourada, tem mesa paralelepipédica e o retábulo compreende três eixos, com quatro colunas helicoidais e vegetalismos nas espiras. Ao centro, abre-se tribuna a comportar trono expositivo galbado de três degraus, com o Menino Senhor do Mundo em plano inferior e Cristo Crucificado no superior. A cúpula, de um quarto de esfera, decora-se com concheados e festões. Nos eixos laterais constam a Virgem Maria e Santo Estêvão, sob mísulas e cobertas por dossel com espaldar concheado.

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4045

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