A opinião de ...

Inocente (s)

Começou o julgamento mais mediatizado dos últimos tempos – o da chamada Operação Marquês onde o antigo Primeiro Ministro José Sócrates é acusado de vários crimes e de cujo cardápio saíram já outros tantos, durante o processo de instrução. Apesar dos numerosos indícios e flagrantes não há, tanto quanto se saiba, qualquer prova que incrimine o antigo governante. Não há uma única escuta, uma transferência, uma inequívoca declaração que de forma clara o associe aos milhões de euros onde, o seu amigo e “benfeitor” Carlos Santos Silva, retirava as sucessivas tranches de dinheiro com que sustentava os seus luxos em Paris.
É verdade que não há, igualmente, uma única prova ou evidência de rendimentos próprios de Sócrates que lhe permitissem suportar tais gastos nem, tão pouco, garantir o futuro reembolso de tão generosos “empréstimos”. Mas essa é uma questão que o Ministério Público tem de resolver. A conhecida máxima “quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem” sendo verdade, podendo, no caso, assentar que nem uma luva ao cerne do processo Marquês, mas não passa de um ditado, um rifão dos mais acertados, mas não é prova que o Tribunal possa aceitar, não é argumento que possa fundamentar qualquer acórdão e muito menos constituir jurisprudência. Apesar da forte convicção do Ministério Público sobre a origem das verbas que sustentaram o alto dirigente socialista, em audiência, não vale mais que a teoria da defesa, que me foi confidenciada durante uma viagem que há alguns anos atrás fiz, de Lisboa a Mogadouro, com João Araújo, o primeiro defensor de Sócrates: Por mais inacreditável que possa parecer, José Sócrates beneficiou de uma generosidade quase inexplicável do subserviente admirador, Carlos Santos Silva que usava a sua fortuna para satisfazer todos os caprichos do amigo com o intuito de lhe proporcionar todos os recursos que ele entendesse poderem ser úteis para a promoção da sua carreira política.
A inexplicável e inaceitável declaração do PGR Amadeu Guerra de que será dada a Sócrates a oportunidade de poder provar a sua inocência, indiciando uma potencial incapacidade de se provar a sua culpa, sugere o pior dos resultados para todo este processo: apesar da convicção pública da sua culpabilidade, da inexplicável abundância de recursos, inexplicável e inexplicada, o tribunal vai declará-lo inocente ou, pior ainda, não culpado, nada nos garantindo que no acórdão final não apareça algum comentário sobre a crença pessoal do relator.
Inocentes são, por natureza, os alunos da escola pré-primária, filhos de imigrantes cujos nomes tendo sido expostos nas redes sociais por Rita Cid Matias, foram, posteriormente, levados à Assembleia da República pelo inefável e explorador profissional destas circunstâncias, André Ventura. Não são culpados de absolutamente nada e não é crime, nem tão pouco constitui qualquer infração ter um nome estrangeiro ou de origem supostamente estranha. Alguém lembrou logo que o primeiro dos apelidos da “paladina” da pureza sanguínea, Cid, é de origem árabe, deriva de “seid” ou “sayyid” que quer dizer “amo” ou “senhor”. Demonstrando o óbvio: é de origem magrebina grande porção do sangue, dito lusitano. E o “catolicíssimo” Ventura deveria saber que o nome do maior santuário cristão da nossa terra, não tem o nome de qualquer santo ou santa, levados por Roma aos altares, mas o de Fátima, a filha de Maomé e, provavelmente, a mulher mais influente na história do Islão!

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