A opinião de ...

Chiara Corbella Petrillo

Encontramo-nos no mês dos santos populares. Em torno das suas figuras, a sociedade de hoje constrói momentos agradáveis de festa, o que é muito louvável. Efetivamente, os santos são um hino à vida e, por onde passam, deixam inevitavelmente um rasto de alegria, mesmo se se pautaram por uma dura austeridade. Foram e continuarão a ser ocasião de encontro, de canto e de dança. Quem serve assim a vida dos homens naturalmente contribui para a glória de Deus. Ao lado destes, vão emergindo nos nossos dias outros, cuja popularidade se vai alargando. Não falo da santidade «da porta ao lado», mas dalguns que se vão tornando pertença comum. E hoje, de modo particular, gostaria de evocar uma jovem que no dia de Santo António de 2012 deu por terminada a sua missão nesta terra. Com apenas 28 anos sabia que «o mais importante na vida não é fazer coisas, mas nascer e deixar-se amar» como se lê no epitáfio da sepultura onde se encontram ela e os seus dois primeiros filhos. A sua popularidade cresce como cresceu na sua história a coerência com o Evangelho. É Serva de Deus desde 2 de julho de 2018 e trabalha-se neste momento no processo da sua beatificação.
Chiara Corbella Petrillo podemos defini-la como uma jovem apaixonada pela vida. Merece ser conhecida simplesmente por isso. Além disso, descobrimos nela uma grande paixão por Deus. Ela conta-nos a forma como hoje um cristão pode encontrar e sentir Deus mesmo no meio das contrariedades. Os grandes desafios de Chiara ocorrem durante os quatro anos do seu matrimónio com Enrico Petrillho. Ambos constroem a sua fidelidade matrimonial à sombra da fidelidade a Deus. Diante d’Ele não têm a arrogância de compreender tudo, como se Deus servisse mais para nos dar respostas do que para nos dar a vida, construindo-a connosco. Para ambos todas as circunstâncias são ocasião de um diálogo com Ele. De modo especial, o acolhimento dos filhos. Os dois primeiros – Maria Grazia Letizia e Davide Giovanni – trazem graves problemas físicos que determinam a sua morte pouco depois do parto. A Maria é-lhe diagnosticada uma anencefalia, a Davide uma malformação visceral da bacia com ausência dos membros inferiores. Porém, Chiara e Enrico não renunciam a recebê-los como dom. Pela terceira vez Chiara encontra-se grávida, agora de um menino saudável a que chamam Francesco. No decorrer desta gravidez Chiara descobre um carcinoma na língua. Os tratamentos a que se devia submeter decidiu adiá-los em benefício do desenvolvimento da criança. Um ano depois do nascimento de Francesco, Chiara morre de cancro.
Esta vida, com muitas contrariedades como tantas outras, teve a particularidade de ser pautada pela alegria e a serenidade. Não foi a doença, o choque e a perda dos filhos a afugentarem a felicidade deste casal, que se alicerçou na relação com Deus através da oração. A alegria cristã que marca a vida de Chiara ao longo deste trajeto é não só surpreendente como é contagiante diante de quantos a conheceram. Ela é um testemunho de como a vida vence a morte, ela pertence àquela estirpe que sem desperdiçar este chão, aponta para a eternidade. O facto de se saber amada e de viver a partir desta verdade, suscitava nela o sorriso mais autêntico. Vale a pena conhecê-la.

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3735

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