A opinião de ...

Festival Eurovisão da Canção

Não é aconselhável fingires que sabes, se não estiveres dentro do assunto. Esta é a máxima que, naturalmente, procuro seguir.
Acabou de ser apurada a canção que irá representar o nosso País no Festival Eurovisão da Canção de 2021. Este é um dos casos em que há assuntos que não domino; e, por isso, nem sequer tento intrometer-me neles. Trata-se de tudo o que envolve a organização: os compositores, os cantores, os músicos, os cenários, os adereços, as roupas, os encenadores, os coreógrafos, as cores, as luzes, as conversas de bastidores, os interesses, as promoções, os horários e até o motivo da escolha da língua em que a canção pode ser cantada … tudo com o objetivo de cada concorrente atrair a melhor atenção do júri e dos telespetadores, para que, depois de tanto trabalho e suposto nervosismo, seja encontrado um vencedor digno de representar Portugal.
Ora, não percebendo nada do que envolve toda esta organização, confesso que não quero, nem tenho nada que perceber. A mim, só interessa ouvir e ver o produto para o qual converge todo este trabalho e, segundo a minha sensibilidade, apreciá-lo – o que, por vezes, fico longe de pertencer à maioria dos que decidem a favor.
Pois bem. Fora isso, não desmerecendo do trabalho, do esforço e das perspetivas dos que lutam pelo pódio, penso que posso e devo dar a minha opinião.
Como a canção que foi escolhida é cantada noutra língua que não a nossa, por sinal por um grupo cujo nome também é estrangeiro (contra o qual nada me move), fico magoado e muito triste.
A propósito da vitória de Salvador Sobral, em 2017, eu escrevi:
[…]
“Cantada em Português, [a canção] tem corrido mundo – logo acolhida e cantada, até mesmo por quem não percebeu nada da letra, a tentar articular as palavras em que foi apresentada.
[…]
São acontecimentos como este que contribuem para a dignificação da nossa Língua, a qual é necessário conhecer bem, respeitar e divulgar com coragem e brio, sem constrangimentos, para que outras gentes a conheçam e igualmente a respeitem como a quinta mais falada em todo o mundo. Ela, que para todo o mundo foi levada pelos nossos navegadores, descobridores, missionários, mercadores, exploradores, aventureiros, artistas e pelos emigrantes espalhados pelos cinco continentes, é bem um fator de união de muitos milhões que a falam, a estudam, a cantam e a levam a ser um veículo da nossa cultura.
É por isso que nunca é demais lembrar que o respeito que nos merece implica saber como se fala e escreve; e utilizá-la quando pode exprimir o mesmo que é dito noutra Língua, evitando assim os estrangeirismos – o que nem sempre acontece.
Para isso seria excelente criar o gosto pela leitura dos nossos autores, reservando-lhe uma parte do tempo de que dispomos e da atenção que merece.
Gil Vicente, Camões, Vieira, Garrett, Herculano, Camilo, Eça, Pessoa, Torga e Saramago, exemplos dos mestres da Língua Portuguesa, – grandes entre os grandes – pelo seu discurso e vernaculidade, apontam-nos muito bem o caminho que devemos seguir no conhecimento da nossa Língua para que possamos saboreá-la, entendê-la e pô-la em prática.”
Apesar da mágoa que tenho de transportar, desejo aos representantes do nosso País o primeiro lugar na votação final – o que também não deixará de constituir para nós um merecido orgulho.

Edição
3824

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