A opinião de ...

A feira das promessas

Proximidade às eleições é tempo de promessas e de ilusões. Os candidatos comportam-se como animais predatórios e a «selva» reclama garras afiadas. São muitos os chamados mas poucos os escolhidos. Libertária e neo-burguesa em aspiração, a cultura dos portugueses só reclama a social-democracia, ajudada pela mudança das caras na televisão. Assim tem sido desde há 50 anos.
No dia 10 de Março de 2024, se não houver nenhum cataclismo, lá vamos nós votar, ou conforme a nossa predilecção ou conforme o nosso benefício da dúvida. PS e AD (esta com PSD+CDS+PPM) têm mais probabilidades de serem mais votados embora o Chega seja um intruso que requeira atenção.
O Chega é um partido que congrega as diferentes revoltas e desilusões face ao mal-estar da democracia portuguesa mas empola-as até ao absurdo. A descida nas intenções de voto após os quinze dias de debates manifesta a incongruência do discurso e do programa. Em consequência, o Chega é um partido anárquico, sem coerência ideológica e programática, não sendo nem de Direita nem do Centro nem de Esquerda. No entanto, é um produto dos erros de todos os outros partidos e da comunicação social. Ao Chega, tudo correrá bastante bem enquanto não aceder ao Poder. No Poder, cairá como um castelo de papel.
Aonde vai chegar o Chega, não sei mas parece-me que não vai tão longe como sugerem algumas sondagens porque o voto útil conta.
O PS e a AD são partidos do sistema pós-25 de Abril de 1976. Do sistema político, do sistema ideológico, do sistema social, do sistema económico, do sistema religioso, do sistema disruptivo, do sistema corruptivo e do sistema administrativo. Foi nestes últimos sistemas que foram perdendo a sua coerência e a sua ética. Hoje, olhamos para eles com uma grande benevolência duvidando que sejam regeneráveis. Mas são os que temos, com algumas virtudes e muitos defeitos. A democracia ainda é muito não-democrática.
A AD (PSD, CDS e PPM) reclama-se de alternativa à governação socialista. O seu programa, apesar de com várias contradições e excessos, parece congruente com a social-democracia. A coerência da sua acção ver-se-á depois. O espaço do PSD é disputado pelos sociais-democratas, pelos liberais e pelos de direita tradicional o que dificulta a identidade e a progressividade.
O PS mudou de líder e tenta mudar de ideologia, tardiamente. Ficou órfão do seu referente simbólico, António Costa, porque quiseram dar-lhe vida. Ao virar à Esquerda, Nuno Santos pode perder o Centro, que parece deslizar para a AD. Vamos ver a avaliação do «Soberano».
E, mais uma vez, tal como nos Açores, para o XIV Governo de lá, pode caber ao Chega decidir da viabilidade do XXIV Governo de cá. Nem será necessário integrar o Governo. Sustentá-lo na AR seria suficiente. O problema é que, para Ventura, o suficiente para Montenegro pode ser insuficiente. E também Luís Montenegro está refém da sua «nega» radical ao Chega. Veremos se fez bem.
Uma nota final: só ao décimo dia de debate se começou a falar de política, externa e de Justiça mas ainda não de defesa nacional. Valha-nos ao menos que os debates melhoraram muito na segunda semana excepto o último em que Luís Montenegro e os entrevistadores o transformaram numa peixeirada. Foi pena.

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