A opinião de ...

Esperanças para 2021

Quando este texto chegar às mãos do leitor, este estará a preparar-se para se despedir de 2020 e receber 2021 se não cheio pelo menos com bastante esperança. É próprio do ser humano esperar sempre melhorar a sua situação e a sua condição. Até porque o final de 2020 pode ter posto fim à desesperança com a vacina da Pfizer-BionNTech.
O ano de 2020 será um ano para não esquecer pois trouxe problemas e desafios nunca vividos nos últimos 75 anos.
Quase todos os problemas giraram em torno da pandemia de SARS-CoV-2, chegada em 2 de Março, e das limitações do Serviço Nacional de Saúde em relação a ela e às outras doenças e doentes.
Porém, houve vários outros problemas que, não tendo sido tão falados, são igualmente importantes para o futuro da população– a crise económica e o desemprego – porque a boa economia e o pleno emprego são o sustento do braço social do Estado e do abraço social da Sociedade Civil àqueles que dele necessitam.
Numa Sociedade e num Estado razoavelmente organizados, os problemas são sempre transformados em desafios e em oportunidades. Por isso, os problemas também geraram criatividade, inovação, capacidade de arriscar coisas novas e muita esperança como motivação para superação do medo e do desespero. E esta atitude não é vã porque assenta em estruturas seculares, umas (o Cristianismo), e de décadas, outras (o Estado Social).
Basta-nos recuar à tragédia da tromba de água de 25 para 26 de Novembro de 1967, em Lisboa, para percebermos por que é que conseguimos conter os dramas sociais gerados pela pandemia dentro de limites controlados e controláveis, graças a um Estado Social, ainda curto, mas Social, e graças à pertença a uma estrutura internacional chamada União Europeia que, afinal, foi e é o garante de todas as nossas infraestruturas pós-democracia.
No Estado Novo (1932-1974), as infraestruturas eram conseguidas graças à ausência de proteção social, graças a uma estrutura administrativa e funções sociais mínimas do Estado e graças à subremuneração dos trabalhadores. Para se ter uma ideia, a despesa do Estado com pessoal, a preços atuais, era, em 1967, de 4.000 milhões de euros; em 1973, de 7.000 milhões; e, em 2020, de 18.000 milhões. A diferença ia para investimentos públicos e muitos foram eles porque, entre o bem-estar das pessoas e o desenvolvimento do país, optou-se por este que possibilitou, a partir dos anos 70, o desenvolvimento do Estado Social. Por isso, em 1967 e 1968, não houve ajudas para nenhuma das famílias das 700 pessoas vítimas das inundações.
Hoje, tudo é diferente em todos os domínios menos nos da segurança civil e da paz social, que começam a requerer atenção.
Basta ver a rapidez com que se desenvolveu a acção contra o SARS-CoV-2 e os seus efeitos económicos e sociais para se perceber que já temos uma estrutura bastante robusta ainda que as incertezas para 2021 e anos seguintes sejam grandes, quer no pano nacional quer no plano internacional.
São assim legítimas as esperanças para 2021. Feliz e próspero Ano Novo.

Edição
3813

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