A opinião de ...

Autárquicas 2021: o afundamento inexorável do PS

Bem podem os dirigentes distrital-bragançanos do Partido Socialista (PS) tentar diminuir a derrota dizendo que o Partido foi o mais votado a nível distrital (41,07% contra 27,52% do segundo partido mais votado, o PSD) nas eleições autárquicas de 2021, mas a verdade é que isso é uma rotunda mentira pois a soma dos votos do PSD e das coligações PSD+CDS resulta sempre num score maior (47,64%) do que o do PS. Há pequenas oscilações entre os resultados da eleição para a Câmara Municipal, para a Assembleia Municipal e para a Assembleia de Freguesia mas elas não põem em causa a maior votação no PSD+CDS.
Com apenas cinco câmaras municipais conquistadas, o PS regressa ao período anterior a 1985 em que o melhor que conseguia eram três. Pior é a implantação local do PS, em Bragança, Vimioso e Carrazeda de Ansiães, uma vez que o PS não conquistou ali nenhuma assembleia de freguesia o que nunca havia acontecido, desde o início das eleições autárquicas, em 1976. E, enquanto que, em vários outros concelhos, o PS ganhou e perdeu assembleias «na negra», por menos de um por cento, no concelho de Bragança, perdeu-as todas profundamente para o PSD. Sendo este Concelho aquele que tem a população mais instruída, este afastamento entre eleitores propostos pelo Partido para serem elegíveis, e eleitores não elegíveis nesta eleição, é insuportável e evidencia um mal-estar que tem de fazer reflectir profundamente os dirigentes e militantes do Partido.
Encontrar a superação da guerra entre prosélitos de Mota Andrade e de Jorge Gomes, ambos dirigentes incompatíveis com o programa e ideologia do PS e com a sã dinamização das bases locais, é urgente e afigura-se uma necessidade na sobrevivência do PS enquanto partido de alternativa no poder autárquico. São dirigentes que só sobreviveram graças a eleições nacionais escamoteando as fragilidades locais na dinamização das bases do Partido.
Voltando ao nível distrital, foram surpreendentes as derrotas de Fernando Barros e de Júlio Meirinhos, respectivamente em Vila Flor e em Miranda do Douro. O desgaste normal dos poderes executivos, a falta de dinamização das bases locais, a par de uma excessiva ideologização da eleição, poderão ser as causas da derrota.
Do lado contrário, foram surpreendentes as vitórias de Benjamim Rodrigues (quase um independente a concurso, contra o PS e contra o PSD), por falta de unidade do PSD local; de Júlia Rodrigues, em Mirandela, derrotando amplamente o PSD, por dinamização das bases locais; de Luís Fernandes, em Vinhais, pela facilidade da vitória; de Nuno Ferreira, em Freixo de Espada-à-Cinta, pela mobilização do voto popular pois foi o concelho onde houve menor abstenção; e de Eduardo Tavares, em Alfândega da fé, por ser a primeira candidatura.
Como consequência da reorganização do voto popular, a nível distrital, o PS deixará de ter a maioria na CIM Terras de Trás-os-Montes.
A nível nacional, pressente-se um profundo desgaste do poder do PS bem como da acção do Governo nacional- de que a derrota em Lisboa e Coimbra é sintoma, - convidando as lideranças e militantes do PSD a afirmarem-se como alternativa séria de Governo Nacional e ressuscitando do quase estado de coma político o Presidente do PSD.
A soberania popular, através do voto, produz grandes surpresas. O PSD ganhou ânimo mas perdeu o seu melhor candidato a Presidente do Partido, Carlos Moedas. Veremos que dividendos vai tirar daí o PS.

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