A opinião de ...

Sem olhos em Mirandela

Há dias vi e ouvi as dificuldades porque passa um jovem invisual a viver na cidade das alheiras famosas porque o comboio na altura findava o percurso naquela localidade. Dos idos novecentistas dos primórdios até agora a vila transformou-se em burgo alargado na volumetria e exíguo para não dizer asfixiado no que tange a equipamentos, sinais e apoios a toda a casta de desvalorizados fisicamente em geral, a cegos tão cegos quanto Homero e Castilho em particular.
Trago à colação dois escritores, o primeiro enorme figura da civilização ocidental, o segundo amigo de realçar as qualidades do homens, mulheres e crianças dos meios rurais, a província como se costuma dizer-se, ainda porque a minha obsessão em referir e falar de homens de letras (que não da área financeira) ao ver o infeliz moço de Mirandela superar a terrível carência com enorme desenvoltura a memória fez saltar como coelho da cartola o famoso livro “Sem Olhos em Gaza”, do colosso literário chamado Aldous Huxley que poucos têm ensejo em lerem pois a leitura transformou-se em utilidade escolar para a maioria das mulheres e homens, fenecendo pouco a pouco, o prazer da leitura, o prazer espiritual do deleite na absorção de textos dos clássicos e grandes escritores de vários matizes, um deles, também vítimas de maleita a sepultá-lo no reino das trevas que o viria a levá-lo a desfazer-se da vida em S. Miguel de Ceide. O genial «picado das bexigas» escreveu “O cego de Landim», todas estas referências explodiram ao ver quão grande é o enfraquecimento dos cidadãos a viverem um dia a dia desfavorecido para quem está debilitado ou pura e simplesmente imerso na senectude. As autarquias, frequentemente, esquece-os ou confia na sua queda no alçapão dos lares e nas camas de existentes nas suas casas quantas vezes sem o necessário apoio de familiares e amigos. A população portuguesa envelhece a olhos visto e os denominados cuidados paliativos, em numerosas comunidades são mesmo paliativos a estibordo e a bombordo.
Ao que sei existe em Mirandela uma Associação de Amigos, conheço algumas de pendor almoçarista e fotografias a assinalarem actos de benemerência em épocas de dias nomeados, pois bem, o mote da reportagem suscita-me a proposta de na vetusta Mirandela a referida Associação levar a cabo uma campanha visando a remoção das barreiras e buracos cerceadores da movimentação dos incapacitados e a criação de brigadas de voluntários capazes de levarem a efeito acções de sensibilização cívica dos direitos (uma das queixas prendia-se com a incúria no deixar o invisual ir na rua sem entraves) de os menos capazes o serem tal como são os escorreitos da mente e dos sentidos. Se esta crónica tiver algum sucesso fico feliz e prometo visitar a urbe outrora dos Távoras em próxima oportunidade.

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