A opinião de ...

A Dança da morte

m 1900, Augusto Strindberg publica a peça A Dança da Morte. Nos anos 70 do século passado a recém-falecida Carmen Dolores tem portentosa actuação contracenando Augusto Figueiredo e Álvaro Benamor cujo título era A Dança da Morte em 12 Assaltos. Vi essa peça duas vezes. Os portugueses perderam um formidável intérprete da arte de Talma ao Augusto Figueiredo ter decidido desaparecer do nosso convívio porque o Mundo português atravessava tumultuoso período político. Estávamos em 1975.
O tempo rodou, ora voltamos a atravessar pungente época dado a aterradora pandemia ceifar vidas ao modo dos ceifeiros de Trás-os-Montes ceifavam searas nos montes e vales sedentos de água (fonte de vida), a respingarem suor, muitas vezes com sangue e lágrimas já que nessa época Portugal sofria os efeitos da gripe espanhola e da neve canosa (alpina) imortalizada pelo notável escritor Thomas Mann em a Montanha Mágica.
A mulher da Gadanha não tem tido mãos a medir, o progresso científico conseguiu criar vacinas em tempo recorde, no entanto, as mesmas não chegam em quantidade a todo o Mundo, sendo visíveis as consequências causadas pelo temido e invisível vírus.
A fé na rápida extirpação da moléstia dissipou-se em virtude da avidez de uns países, das tropelias de políticos irresponsáveis, da falta de planeamento e ausência de civismo educacional dos amigos do sol na eira e chuva no nabal.
A esperança fenece a olhos vistos daí o inconformismo dos jovens e dos mais prejudicados, assomos de raiva mal contida a golpes de bastão (p.e. França, Catalunha) sem esquecer o caso limite do Brasil.
A caridade está reduzida a migalhas doadas por Instituições assoberbadas pela falta de meios, o tédio do conformismo relativamente à famigerada epidemia e à morte na explosiva interditação dos familiares das vítimas serem impedidas de as velarem e homenagear antes de serem transformadas em pó.
Os que pensam nas três virtudes (Fé, Esperança e Caridade) ante a rudeza da contemporaneidade encolhem receosos, isolam-se e deploram não serem beneficiados com uma redoma a isolá-los da crueldade do quotidiano em voga e, aguardam inquietos, a sua sorte.
Míseros tempos!

Edição
3824

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