Agricultores querem relançar produção de cereal mas milhares de hectares de terras estão ocupados com fotovoltaicas
Os agricultores do Nordeste Transmontano pedem apoios específicos no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC) para retomar a produção de cereais, de modo a recuperar a importância que a região já teve nessa cultura a nível nacional.
No entanto, milhares de hectares de terrenos férteis, sobretudo, na zona do Planalto Mirandês, entre Miranda do Douro e Mogadouro, estão ocupados por centrais fotovoltaicas de grande extensão. Há umas décadas essas terras foram boas produtoras de cereal, mas a atividade foi abandonada. Entretanto, nos últimos anos a produção de energia solar tem vencido. Por exemplo, a Central Fotovoltaica de Mogadouro, com 49MW, é a maior do género na região Norte de Portugal, sendo composta por 250 inversores, oito postos de transformação e uma capacidade de produção anual de 80.000MWh.
Este projeto conta com mais de 120 mil painéis fotovoltaicos, com capacidade para fornecer energia a cerca de 20 mil habitações, evitando a emissão de 31 mil toneladas de CO2 por ano.
Está ainda previsto o alargamento das fotovoltaicas a Mina de Tó, no mesmo concelho, para instalar mais de 43 mil painéis.
Nesses terrenos produziu-se em tempos cereal. “Bragança foi o quarto produtor nacional de trigo e o primeiro de centeio há 30 anos. Isto ainda é possível, pois há terra disponível, só que em menos quantidade, porque muita foi ocupada por castanheiros”, defendeu Luís Afonso, proprietário da Moagem do Loreto, à margem da primeira Jornada dos Cereais do Norte organizada pela Associação Nacional de Produtores de Cereais.
A diretora Regional de Agricultura do Norte, Carla Alves, acredita que a produção de cereal pode ser viabilizada “através da recuperação das variedades locais, como o trigo barbela, mais adaptadas à região, trabalhando no seu melhoramento genético para serem validadas para a indústria”.
Os agricultores garantem que é preciso que a União Europeia mobilize os recursos financeiros de compensação, para que a produção seja rentável. “São necessários para os agricultores da região, que em conjunto com o Alentejo e Beiras, podiam ajudar a relançar a atividade”, observou Luís Afonso, sublinhado que a produção de cereal deixou de ser aliciante porque “foram retirados os apoios que existiam”.
A falta de subsídios agravou a situação relacionada com a desvalorização do produto no produtor nacional face à concorrência de outros países, como a Ucrânia e os Estados Unidos da América. “Os preços baixaram muito. Há 30 anos o quilograma do trigo estava a 25 cêntimos, no ano passado estava abaixo disso. Tal como o centeio que estava mais barato do que naquela altura”, explicou o empresário vincando que se o governo quer mobilizar os agricultores “tem que pagar”.
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