A opinião de ...

As pequenas e medias Smart Cities

Nunca na história da humanidade se verificou uma tal migração de populações em direção às grandes cidades como a que se verifica atualmente. A procura de melhores condições de vida prosperidade, bem-estar, mas também tolerância, ambientes abertos e liberais, que permitam uma maior realização pessoal são alguns dos fatores de atração.
Contudo, esta personalização, esta gestão de valores individuais em detrimento do coletivo, apesar de aparentemente proporcionar um maior prazer, deixa muitas questões em aberto. Por isso, nos últimos tempos, uma parte da cidadania que habita nas grandes metrópoles tem-se desdobrado em capitalizar alguns valores humanos em prol do coletivo, tornando a convivência entre indivíduos mais adequada à sociedade atual, mesmo que, muitos dos ‘pecados’ originais das grandes cidades permaneçam latentes e à espreita, desafiando as almas mais corajosas e resistentes.
Há algumas semanas atrás ouvia um pai, comentar num café, que o filho estava “de malas feitas” para o Porto. Falava com orgulho, apesar da saudade óbvia e da distância, nova constante no relacionamento familiar. Dizia este pai que “aqui não tem futuro”, pelo que a busca de oportunidades fora da terra natal, se torna um destino incontornável para muitos dos nossos jovens. Também ouvia há alguns meses, uma menina de tenra idade a responder à mais simples das questões: “o que queres ser quando fores grande”. A resposta: “médica”.  Até aqui tudo normal, não fosse a segunda questão (mais importante) relacionada com o local onde iria praticar a sua nova e desejada profissão. “No Porto ou e Lisboa”, foi a resposta. Estremeci. As nossas crianças já pensam com naturalidade em abandonar as suas pequenas cidades e vilas, em direção à grande urbe. Estremeço ainda mais quando os próprios adultos consideram este destino como o decorrer de um processo natural.
Claro que há também exemplos inversos, de gente que abandona as grandes cidades em direção ao interior. Mas há duas variáveis constantes. Quem chega ganha menos do que quem parte e, obviamente, chegam em menor número. Quase exceções.
O resultado, a medio longo prazo (senão mesmo a curto) pode ser catastrófico.
O que é então o Smart Travel 2015 que acontece em Bragança neste fim-de-semana? É um evento que vai colocar em cima da mesa muitas preocupações e também tentar debater alguns caminhos através da demonstração de outros exemplos e casos de sucesso. O Smart Travel 2015 é o último evento do ano dedicado às Smart Cities. É também a afirmação da região transmontana e Bragança, em particular, na liderança da discussão e reflexão de todos os dramas das regiões de baixa densidade populacional. O Turismo é naturalmente um dos fatores que pode contribuir para a fixação de gente e desenvolvimento económico. Mas há outros. São esses que, de forma inteligente, com estratégia e equilíbrio, devem ser pensadas. Sim, este é o evento dos pequenos. Mas é um grande evento internacional, já considerado uma referência global. É uma oportunidade mas é também uma potencialidade: um espelho.

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