A opinião de ...

Festas de Inverno assumir, purificar e, elevar.

As Festividades do nosso “inverno mágico”, do Natal aos Reis [6 jan.], ou ao S. Sebastião [20 jan.], tem sido objeto de bastantes estudos, mas exigem ainda mais reflexão e interdisciplinaridade, para se avançar na compreensão de comportamentos, deste fenómeno único no país. Sociologia, antropologia, filosofia, história, teologia, direito canónico, dando as mãos, para analisar em conjunto tão delicada assunção de ritos antigos, sagrados e profanos, que afetam o campo religioso, social, político e, cultural.
O cristianismo, ao longo dos séculos, foi “encarnando o evangelho nas culturas autótenes”, ao promover a fé, como gostava de dizer o Cón. Raimundo de Castro Meireles, docente da Universidade Católica do Porto, preservava a identidade cultural do povo. Continuava ele, não se esqueçam da pedagogia da Igreja: assumir as realidades existenciais, purificá-las e, elevá-las, para salvaguardar a fé e, preservar a cultura.
Assim é, necessário cuidar, sem separar, fé e cultura, organismos vivos, juntos a promover humanidade. Não se pode relegar a fé para a sacristia e, atirar a cultura para o adro. Nem os “caretos”, os “máscaros”, as “rondas”, as “roscas”, as “galhofas”, as “festas do bacalhau”, ou da “sardinha”, são o espetáculo, para pasto voraz dos palcos e, da comunicação social, nem os atos religiosos são apenas devoção privada, para dentro das quatro paredes da igreja. Fé e cultura fazem parte de um todo, a raiz identitária dum povo, por isso devem bailar ambos no chão da mesma eira.
A festa não é apenas passatempo festivo, parte do circuito comercial. A festa cristã, como um todo, valoriza a vida, a criação, torna o nosso viver mais humano, mais digno, por isso requer a Eucaristia, lugar de proclamação das grandes obras de Cristo, que nos santos, nos oferecem bons exemplos a imitar [SC. 111]. Na festa se dá o encontro da família, dos vizinhos, dos amigos, a gratuidade, a liberdade, a transcendência. Na programação da festa não se dispensa a novena ou tríduo, a Reconciliação, a escuta da Palavra, o rosário, a reflexão, a oração comum, a veneração dos Santos, a procissão, a esmola, a piedade popular. Os atos e atitudes celebrativas, requerem autenticidade, sem artifícios, entrega, de alma e coração, serviço genuinamente cristão, boa gestão do económico e, do lúdico, para se superar o paganismo comercial, utilitarista e laicista [CORDEIRO, 2015], para dar lugar à graça, promotora da humanização, do culto e, a cultura.

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