Intergeracionalidade
1. Teve o Sr. Diretor do Agrupamento de Escolas Dr. Ramiro Salgado, de Torre de Moncorvo, Prof. Miranda Rei, com apoio dos seus colaboradores, a amabilidade de me dirigir o convite para apresentar o meu livro “Encruzilhadas no Império” aos alunos do Secundário. Para mim, uma honra e um privilégio participar neste evento memorável, ao qual devotei o meu maior entusiasmo.
Tenho referido, nas apresentações das minhas obras, quer na Associação 25 de Abril, Lisboa, quer na Fundação Portugal-África, Porto, quer na UNICEPE (Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto), quer na Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo, quer na minha aldeia, Larinho, que, não sendo historiador, me interessa muito conhecer o passado para compreender o presente e projetar o futuro. Estas Encruzilhadas são uma viagem pelo Império – com figuras históricas, figuras simbólicas e figuras anónimas (estas habitualmente repousam nas gavetas fundeiras dos compêndios de História). Procurei, julgo ter conseguido, que os alunos (apesar de ainda não dominarem conhecimentos históricos suficientes – o que é razoável) interviessem, lendo excertos da obra, com a prestimosa colaboração de alguns professores (Delfina, Helena e Eduardo) e de funcionários sempre solícitos.
Também tive o apoio da minha mulher, crítica sobre o que escrevo, e que converte os textos em mensagens apelativas, os slides; esteve connosco o Luís Cascais, mestiço de branco e de chinesa, meu companheiro de brincadeiras e amigo desde há 70 anos, lá no Larinho, que cantou algumas canções.
Um facto me emocionou, prévio ao Encontro com os jovens: os alunos de uma turma compuserem poemas acerca do patrono desta Escola, meu pai (peço desculpa por este orgulho…). Curiosamente ou não, os poemas escolhidos (sonetos), muito belos, de acordo com o tema, têm a chancela de dois jovens, um brasileiro (Caua) e de uma moçambicana (Kailan). Pois não é verdade que as emoções (positivas, que provocam reações corporais) e os sentimentos (reações psicológicas), segundo António Damásio, orientam as nossas ações? Ali estavam a geração de baby boomers e a geração Z, num encontro intergeracional.
2.º Caros leitores, a vida surpreendo-nos frequentemente. Vejam, aqui e agora, como é fácil compreender que somos filhos de miscigenações diversas, nós, os portugueses. Este torrão, habitado pelos Iberos, foi visitado por Celtas, Fenícios, Gregos, Cartagineses Romanos, Visigodos, Suevos, Muçulmanos, Africanos. Nesta Escola de Moncorvo, como noutras, há jovens de várias origens, descendentes de imigrantes, que se entrosam perfeitamente na realidade social quotidiana e na comunidade educativa. Fico chocado pelo ímpeto feroz de alguém que, através de agressões morais e psicológicas, em palavras pretensamente certeiras, vem defender a pureza da raça. Faz-me lembrar a inscrição à entrada do campo de concentração Buchenvald, Leste da Alemanha, Jedem Das Seine que significa, vede bem, “a cada um o que merece”. Ou seja: os nazis defendiam a pureza da raça ariana e, por isso, perseguiram e mataram tantos judeus e ciganos e outros, incluindo polacos, russos, e até doentes mentais. Não percebo como se pode, nos dias de hoje, ainda que sem agressividade física – para já – ter um discurso de ódio.
