Emigração e Imigração
1.º Volto a este assunto, por três razões.
Primeira: Portugal foi país emissor de mão-de-obra para outras regiões do mundo no sec. XIX e início do sec. XX, especialmente para o outro lado do Atlântico (Brasil e Estados Unidos da América). Aliás, este movimento emigratório, com distintos momentos e espaços, não é um mero conjunto de dados estatísticos, e remonta às descobertas portuguesas. Foi, como é sabido, um entrecruzar de culturas e de acontecimentos enriquecedores, também controversos. Em especial no Brasil, a recepção dos imigrantes teve altos e baixos, com resultados díspares: ou bem acolhidos ou não aceites de imediato – em particular, a seguir à independência do Brasil, alguns emigrantes enriqueceram, os torna-viagens, outros regressaram sem qualquer pecúlio; muitos permaneceram em Terras de Vera Cruz.
Segunda: Sou contemporâneo da emigração clandestina de gentes da minha aldeia como da emigração legal para países da Europa no terceiro quartel do sec. XX. Também a fuga clandestina de muitos jovens mostrando a sua revolta contra a guerra colonial, deslocando-se para França, Holanda, Bélgica, Suíça, Suécia, Marrocos.
Terceira: Nas últimas duas décadas, registou-se um acentuado duplo e diferente movimento: emigrantes em busca de trabalho mais qualificado e entrada massiva de imigrantes provenientes da Europa Central e de Leste, além do Brasil. Têm sido produzidos diversos textos de natureza académica, científica, isenta, no âmbito do Observatório da Emigração Portuguesa. Entre outros, “Regresso ao futuro. A nova emigração e a relação com a sociedade portuguesa”, de Cláudia Pereira et al, 2021, para conhecer as novas características da emigração portuguesa no século XXI. No que respeita à imigração, por exemplo, “Novos Fluxos de Imigração em Portugal: o novo posicionamento de Portugal no sistema migratório Europeu”, de Pedro Góis et al, 2010.
2.º O que temos vindo a observar no nosso País face à imigração?
Têm recrudescido iniciativas de cariz xenófobo contra os imigrantes, como é o caso recente da exploração de trabalhadores em Beja.
Cito Pedro Góis, Público, 6.12.2025: «O paradoxo é evidente: embora essenciais, os trabalhadores imigrantes continuam a ocupar posições de maior vulnerabilidade laboral e social. Trabalham, de forma sobrecarregada em sectores essenciais, como cuidados de saúde, transportes, distribuição alimentar, agricultura ou limpezas». Mais adiante, refere: «A migração não deve ser tratada como um fenómeno externo, a ser “gerido” paralelamente às restantes políticas económicas. Pelo contrário, deve ser integrada nas estratégias de crescimento, coesão territorial, modernização industrial e justiça social. É esta a verdadeira ambição de uma transição justa». Também Pedro Marques Lopes em A imigração e a ignorância – VISÃO, Edição 1709, de 4.12 a 10.12 de 2025, assume que «o Governo [parece] não conhecer a economia, o funcionamento das empresas, a demografia, nem qualquer tipo de estudo sobre imigração. Não fosse essa minha fé na bondade humana, teria de assumir que o Governo toma conscientemente decisões contra o bem comum apenas porque acha que essas podem trazer-lhe benefícios eleitorais».
Face ao que fica enunciado e pela análise social que faço, afirmo a minha total discordância sobre a atual política de imigração.
